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segunda-feira, 21 de abril de 2025

Apollo Guidance Computer: Um Mergulho Profundo na Tecnologia que Conquistou a Lua

Pessoal,


Há alguns anos atrás eu falei sobre o programa espacial tripulado da NASA, focando nas missões Mercury, Gemini e Apollo (veja aqui).

Entretanto, todo blog de tecnologia que se preste tem que falar, em algum momento, do Apollo Guidance Computer. E hoje é dia da gente falar dele!

Apollo Guidance Computer: Um Mergulho Profundo na Tecnologia que Conquistou a Lua

O Apollo Guidance Computer (AGC) foi o coração digital das missões Apollo, que levaram o ser humano à Lua entre 1969 e 1972. Desenvolvido pelo MIT Instrumentation Laboratory, sob a liderança de Eldon C. Hall (hardware) e Margaret Hamilton (software), o AGC era um computador embarcado responsável por navegação, orientação e controle do Módulo de Comando (CM) e do Módulo Lunar (LM). 

Este post oferece uma análise técnica detalhada, explorando o hardware revolucionário, a programação em assembly, a interação via DSKY, os erros críticos 1201 e 1202, os easter eggs e comentários no código-fonte, e como experimentar o AGC com simuladores, porém ser ser excessivamente técnico. Afinal de contos, eu sou um entusiasta por informática e tecnologia, não um professor no assunto! As referências utilizadas no final do post para que, quem quiser, complete ou aprofunde no assunto.


Inovações Tecnológicas do AGC Comparadas à Época

Na década de 1960, os computadores eram máquinas massivas, como o IBM System/360 (usado em bancos e universidades) ou o CDC 6600 (para cálculos científicos), que ocupavam salas inteiras, consumiam kilowatts de energia e dependiam de válvulas ou transistores discretos. Operavam modo batch, processando tarefas sequencialmente, com interfaces rudimentares (cartões perfurados, fitas magnéticas), além de exigir toda uma equipe de manutenção.

IBM System/360

CDC 6600

Essas características tornavam inviáveis sua utilização no espaço. Então, como falaremos abaixo, a NASA precisou começar do zero!


Hardware do AGC: Uma Obra-Prima de Engenharia

O AGC, projetado para o espaço, enfrentava restrições únicas: tamanho reduzido, baixo consumo de energia, resistência a vibrações, radiação e temperaturas extremas. Suas inovações o tornaram um marco.

O AGC operava com apenas 55 W, ocupando 0,06 m³ e pesando 32 kg. Sua inovação começou com o uso pioneiro de circuitos integrados (ICs) da Fairchild Semiconductor, uma tecnologia então experimental, inventada por Jack Kilby em 1958. Cada chip, com portas lógicas NOR de 3 entradas, integrava seis transistores em 1 cm², permitindo que o AGC Block I usasse 4.100 ICs e o Block II, mais otimizado, apenas 2.800. Comparado ao IBM 7094, com 50.000 transistores soldados manualmente, o AGC era uma façanha de densidade e eficiência, consumindo 1% da energia de um mainframe típico. Essa aposta nos ICs, defendida pelo MIT contra a desconfiança inicial da NASA, acelerou sua adoção em setores como aviação e eletrônicos de consumo.

O famoso "dual NOR" do AGC Block II


Armazenamento de Dados e Informações

A construção do AGC exigia robustez extrema. Suas conexões usavam wire-wrap, uma técnica onde fios eram enrolados em pinos para contatos firmes, resistindo a vibrações do lançamento do Saturn V. O calor gerado, dissipado passivamente por um chassi de alumínio no vácuo espacial, era cuidadosamente gerenciado, já que ventiladores eram inviáveis. Testes de qualificação, realizados em câmaras de vácuo e acelerômetros, simulavam as condições do espaço, incluindo radiação ionizante e choques térmicos. Comparado a outros sistemas embarcados da época, como o computador do míssil Minuteman II, que também usava ICs mas exigia menos interatividade, o AGC era único por combinar navegação autônoma, controle em tempo real e interface com astronautas. Nenhum AGC falhou em missões Apollo, um testemunho de sua engenhosidade.

Wire Wrap!

No coração do AGC estava sua memória, dividida em duas tecnologias inovadoras. A core rope memory, uma ROM de 36.864 palavras de 16 bits (~72 KB), armazenava os programas Colossus (Módulo de Comando) e Luminary (Módulo Lunar).

Core Rope Memory!

Cada núcleo magnético codificava até 64 bits, com fios tecidos manualmente para representar 1 (passando pelo núcleo) ou 0 (desviando). Esse processo, realizado por trabalhadoras da Raytheon apelidadas de "Little Old Ladies", era tão meticuloso que um erro exigia meses para retrabalhar. Imune a radiação e quedas de energia, a core rope era ideal para o espaço, superando as fitas magnéticas dos mainframes em confiabilidade, embora sua natureza fixa tornasse atualizações lentas. Para dados dinâmicos, como coordenadas orbitais ou comandos, o AGC usava uma core memory de 2.048 palavras (~4 KB), com núcleos magnéticos magnetizados para 0 ou 1. Apesar de sua leitura destrutiva, que exigia reescrita, a RAM era rápida (11,7 µs por acesso) e protegida contra radiação por blindagem magnética. Comparada aos 144 KB de RAM do IBM 7094, a memória do AGC era minúscula, mas otimizada para eficiência, armazenando apenas os dados essenciais, como vetores de estado orbital ou ângulos de gimbal.


Programação do AGC: A Arte do Assembly

A maravilha do AGC não era apenas em hardware, mas também em software! O sistema operacional do AGC, criado por J. Halcombe Laning, introduziu a multitarefa em tempo real, algo inédito na década de 1960. Enquanto mainframes processavam jobs sequencialmente, o AGC alternava entre tarefas como cálculos de trajetória, controle de motores e interação com astronautas. O componente Exec gerenciava até oito tarefas, atribuindo prioridades de 1 a 7, garantindo que funções críticas, como o controle de pouso, fossem priorizadas. A Waitlist, por sua vez, lidava com interrupções curtas, como leituras de sensores a 100 Hz, acionadas por um temporizador de hardware. Ocupando apenas 5% da ROM, esse sistema era uma façanha de otimização, essencial para um ambiente onde milissegundos podiam ser decisivos. A arquitetura de 16 bits, com um acumulador, um program counter e um registrador Q, operava a 0,043 MHz, executando 40.000 instruções por segundo. Embora mais lenta que o IBM 7094, sua eficiência para tarefas específicas, como resolver equações keplerianas, minimizava overhead.

A programação do AGC era um exercício de precisão, escrita em linguagem de montagem (AGC assembly) para caber nos 72 KB de ROM e 4 KB de RAM. Com apenas 11 instruções nativas, os programadores criavam rotinas densas. Para comparação, um chip CISC atual (Complex Instruction Set Computer), como os x86/64 da Intel e AMD, podem ter milhares de instruções e os RISC (Reduced Instruction Set Computer), como os ARM de celular ou Apple Silicon, contêm centenas de instruções!

Um trecho do arquivo LUNAR_LANDING_GUIDANCE.agc mostra o programa de pouso lunar (P63):

TC     BANKCALL   # Chama subrotina em outro banco
CADR   P63GO      # Endereço do programa P63
CA     TIME1      # Carrega tempo atual
TS     MPAC       # Armazena no registrador multiuso
TCF    LOOP       # Volta ao loop principal

Outro exemplo, de NAVIGATION.agc, calcula a órbita:

CA     VELX      # Carrega velocidade X
AD     DELTAV    # Adiciona correção
TS     VELNEW    # Armazena nova velocidade

Essas rotinas, com instruções como ADD, TC e CAF, exigiam otimização extrema. Para cálculos complexos, o AGC usava um interpretador virtual, suportando aritmética de ponto flutuante, funções trigonométricas (seno, cosseno) e operações matriciais, essenciais para navegação. O interpretador, ocupando ~5 KB, compactava algoritmos que, sem ele, exigiriam centenas de instruções nativas. A memória era dividida em bancos de 8 KB, acessados por BANKCALL, superando o limite de 12 bits dos operandos. Comparado ao Fortran ou COBOL, linguagens de alto nível e com alto grau de abstração do hardware dos mainframes, o assembly oferecia controle total, mas exigia paciência e criatividade.

Margaret Hamilton liderou uma equipe de até 350 programadores, desenvolvendo práticas que moldaram a engenharia de software.

Margaret Hamilton ao lado de listas de códigos dos programas do AGC

Testes unitários verificavam cada subrotina, simulações replicavam voos reais, e revisões cruzadas minimizavam erros.

TS PRIORITY   # Define prioridade da tarefa
TCF EXEC      # Chama o Executive

O sistema de priorização (visto acima), crucial nos erros 1201/1202, descartava tarefas de baixa prioridade em sobrecargas, enquanto comentários detalhados, como # COMPUTE DELTA-V FOR BURN, explicavam a lógica. Um exemplo de comentário em P63.agc detalha o pouso:

# COMPUTE DELTA-V FOR BURN
# ITERATE UNTIL ERROR < 0.01 FT/SEC
# ADJUST THRUST VECTOR FOR LANDING

O desenvolvimento, custando US$150 milhões (~US$1 bilhão hoje), envolveu 1.400 pessoa-anos, com colaboração intensa entre programadores, engenheiros e astronautas, garantindo zero falhas em missões tripuladas. A pressão da corrida espacial, contra a URSS, exigia prazos apertados, mas a equipe do MIT, com muitos na faixa dos 20 anos, entregou um software impecável. É ou não uma façanha?


Interação dos Astronautas: O DSKY e o Sistema Verbo-Substantivo

Os astronautas interagiam com o AGC pelo DSKY (Display and Keyboard), uma interface compacta com teclado numérico, displays de 7 segmentos e luzes indicadoras, projetada para uso com luvas espaciais e vibrações.

 
Diagrama da interface do DSKY do Módulo Lunar



O sistema verbo-substantivo simplificava comandos em códigos de dois dígitos.
  • Verbos definiam ações, como:

    • 06: Exibir dados no display.

    • 16: Monitorar dados continuamente.

    • 37: Selecionar um programa.

    • 21: Inserir dados manualmente.

    • 05: Acionar alarme visual.

  • Substantivos especificavam dados, como:

    • 62: Velocidade, taxa de descida e altitude.

    • 18: Tempo até ignição (TIG).

    • 43: Latitude e longitude de referência.

    • 09: Código de alarme.


Alguns exemplos incluem:
  • V06N62: Exibe velocidade (ex.: 1500 ft/s), taxa de descida (-70 ft/s) e altitude (5000 ft).

  • V16N18: Monitora o tempo até a ignição (ex.: 45 segundos).

  • V37N01: Seleciona o programa P01 (navegação orbital).

  • V21N43: Insere latitude (+12345) e longitude (-54321).

  • V05N09: Exibe códigos de alarme (ex.: 1202).

O teclado tinha:

  • Teclas numéricas (0-9).

  • VERB e NOUN para iniciar comandos.

  • ENTER para confirmar.

  • + e - para valores.

  • CLEAR para corrigir erros.

  • PRO (proceed) para avançar ou aceitar resultados.

  • KEY REL (key release) para liberar o teclado.


O teclado, com teclas como VERB, NOUN, ENTER e PRO, era intuitivo após treinamento, apoiado por uma folha de referência plastificada. Astronautas treinavam por meses em simuladores no MIT e em Houston, dominando comandos como V06N62 para monitorar a descida, mas ainda assim tinham uma "cola" no painel para qualquer emergência:



Para a saída de resultados, três displays de 7 segmentos (R1, R2, R3) mostravam até 5 dígitos em octal ou decimal. Cada display tinha um sinal (+ ou -) e suportava números como +12345 ou -00789.
  • Exemplo de saída para V06N62:

    • R1: 01500 (1500 ft/s, velocidade).

    • R2: -0070 (-70 ft/s, taxa de descida).

    • R3: 05000 (5000 ft, altitude).

Além disso, luzes indicadoras alertavam sobre estados:

  • COMP ACTY: Computador processando.

  • PROG: Alarme de programa (ex.: 1201/1202).

  • UPLINK ACTY: Dados recebidos da Terra.

  • NO ATT: Falta de dados de atitude.

  • GIMBAL LOCK: Alinhamento inválido dos gimbais.

  • TEMP: Superaquecimento (raro).


O DSKY, com displays verdes brilhantes e teclas robustas, é visível em close-ups e no painel do Módulo Lunar Eagle.




Comparado às interfaces do programa Gemini, que usavam mostradores analógicos, o DSKY era um salto digital, inspirando o Space Shuttle.

A robustez do AGC foi testada na Apollo 11, em 20 de julho de 1969, quando os erros 1201 e 1202 surgiram a 30.000 pés do solo lunar. Esses alarmes, indicando sobrecarga, foram causados pelo radar de rendezvous, ligado fora de fase com o sistema de energia do Módulo Lunar, gerava um "phase skew" que produzia dados inválidos e isso causava interrupções a cada 0,64 segundos. O erro 1201 sinalizava falta de espaço no Exec, e o 1202, na Waitlist, consumindo 15-20% do tempo de CPU. Buzz Aldrin, monitorando o DSKY, relatou: “Program Alarm. It’s a 1202”. Neil Armstrong, pilotando manualmente, manteve a descida, enquanto o Controle da Missão, liderado por Gene Kranz, avaliava. Jack Garman, com 24 anos, reconheceu os erros como gerenciáveis, usando uma folha de referência de alarmes. O sistema de priorização de Margaret Hamilton reiniciava o AGC em 2-3 segundos, descartando dados do radar e preservando cálculos críticos, retornando ao programa P63, de pouso, sem perda de contexto. A ordem “GO” permitiu o pouso com 30 segundos de combustível. Transcrições mostram a tensão:

102:38:25 ALDRIN: Program Alarm. 102:38:28 CAPCOM: It’s a 1202.
102:38:32 CAPCOM: We’re GO on that alarm.
102:38:42 ALDRIN: 1201.
102:38:44 CAPCOM: 1201 alarm. We’re GO.

A equipe de suporte, incluindo Steve Bales, foi premiada por sua resposta rápida. Após a Apollo 11, a NASA revisou os procedimentos do radar, aplicando lições em missões como a Apollo 12, onde verificações extras evitaram erros semelhantes.


Easter Eggs e Comentários no Código-Fonte

O código-fonte do AGC, disponível no GitHub (aqui) e Virtual AGC (aqui), revela a criatividade da equipe.

Easter eggs incluem “BURN, BABY, BURN!” em BURN_BABY_BURN--MASTER_IGNITION_ROUTINE.agc, celebrando a ignição do motor, e “PINBALL” em PINBALL_GAME_BUTTONS_AND_LIGHTS.agc, comparando o DSKY a um arcade. Referências mitológicas, como “LATONA”, aparecem em rotinas de navegação, enquanto erros de digitação, como “WTIH” por “WITH”, adicionam charme. Comentários humorísticos refletem a pressão:

  • “TEMPORARY, I HOPE HOPE HOPE” (EXECUTIVE.agc): Uma solução improvisada.

  • “THIS BETTER WORK OR WE’RE ALL IN TROUBLE” (LUNAR_LANDING_GUIDANCE.agc): Sobre o pouso.
  • “WHO WROTE THIS MESS?” (INTERPRETER.agc): Autocrítica.


Por Que o AGC Era Inovador e Adequado?

Comparado a dispositivos modernos, o AGC era muito, muito limitado. Seus 4 KB de RAM e 72 KB de ROM contrastam com os 8 GB de RAM e 512 GB de armazenamento de um iPhone 15. Operando a 0,043 MHz, executava 40.000 instruções por segundo, contra bilhões a 3,4 GHz, 100.000 vezes mais rápido. O DSKY, com displays de 7 segmentos, lembra um terminal Linux, enquanto smartphones têm telas OLED. Contudo, o AGC era robusto e funcional, resistindo a radiação e lidando com erros como o 1202. Sua latência de 11,7 µs para RAM era competitiva para a época, e sua eficiência inspirou sistemas embarcados modernos, como os de satélites e drones [14].

O AGC era ideal por sua eficiência e confiabilidade. Cada byte era usado com precisão, e zero falhas em missões Apollo comprovam sua robustez. Inovações como ICs, multitarefa em tempo real e engenharia de software moldaram tecnologias futuras.


Simulador do AGC: Revivendo a História

Simuladores permitem reviver essa história:

  • Moonjs (aqui): Executa Colossus 249 no navegador

  • Virtual AGC (aqui). Que permite emular o AGC das missões Apollo (8 a 17) e Gemini. 

O código-fonte, com 2 MB, é um legado aberto . Arquivos como LUNAR_LANDING_GUIDANCE.agc mostram a lógica do pouso, e o assembler yaYUL permite modificações. O Apollo Guidance Computer combina inovação e humanidade, com erros 1201/1202 e easter eggs como “BURN, BABY, BURN!”.

Bom, por enquanto é isso!

Até o próximo post, pessoal!

Fontes:
  1. Wikipedia. "Apollo Guidance Computer." https://en.wikipedia.org/wiki/Apollo_Guidance_Computer

  2. GitHub. "Apollo-11: Original Apollo 11 Guidance Computer (AGC) source code." https://github.com/chrislgarry/Apollo-11

  3. NASA. "Apollo 11 Lunar Surface Journal." https://www.nasa.gov/history/alsj/a11/a11.html

  4. Museu Capixaba. "Hoje: Computador Apollo Guidance Computer (AGC) de 1968." https://museucapixaba.com.br/hoje/computador-apollo-guidance-computer-agc-de-1968/

  5. IEEE Computer. "The Apollo Guidance Computer: A Review." https://csdl-downloads.ieeecomputer.org/mags/mi/2021/06/09623432.pdf

  6. YouTube. "Apollo Guidance Computer - How it Worked?" by CuriousMarc. https://www.youtube.com/watch?v=ge6zfKaMfAQ

  7. YouTube. "Apollo DSKY: The Human Interface to the Moon" by David Woods. https://www.youtube.com/watch?v=B1J2RMorJXM

  8. ABC News. "Apollo 11's Source Code Has Tons of Easter Eggs." https://abcnews.go.com/Technology/apollo-11s-source-code-tons-easter-eggs-including/story?id=40515222

  9. Viva o Linux. "Código Fonte Original da Missão Apollo 11." https://www.vivaolinux.com.br/dica/Codigo-Fonte-Original-da-Missao-Apollo-11

  10. Space Today. "O Código que Levou a Apollo 11 para a Lua é Disponibilizado para Acesso Público." https://spacetoday.com.br/o-codigo-que-levou-a-apollo-11-para-a-lua-e-disponibilizado-para-acesso-publico/

  11. Diolinux. "Código Fonte da Apollo 11 Disponível no GitHub para Download." https://diolinux.com.br/open-source/codigo-fonte-apollo-11-github-download.html

  12. Virtual AGC Project. "Apollo Guidance Computer Documentation and Software." https://www.ibiblio.org/apollo/

  13. GitHub. "Virtual AGC: Apollo Guidance Computer Emulator." https://github.com/virtualagc/virtualagc


sábado, 13 de março de 2021

Perseverança

Pessoal,

Pois bem, há alguns dias NASA pousou seu enésimo robô em Marte.

Já falei aqui sobre as missões espaciais tripuladas americanas (sim, as americanas foram as mais bem sucedidas) e falei aqui e aqui sobre as missões espaciais robóticas (também só falei das americanas, ficou devendo algumas soviéticas que foram bem sucedidas).

Como falei lá atrás, existem basicamente 6 tipos de sondas utilizadas pelas agências espaciais:

    -Sobrevoo (flyby): sonda passa próxima a um astro e o analisa com seus instrumentos;

    -Orbitador: sonda entra em órbita de um astro, passando a funcionar como um satélite artificial do mesmo;

    -Impacto: sonda colide com um astro, fazendo análises durante a aproximação ou colisão a ele;

    -Aterrissador (lander): sonda pousa num astro analisando-o in loco, muitas vezes levando consigo uma sonda veicular;

    -Veicular (rover): sonda com capacidade de locomoção para analisar uma área maior de um astro;

    -Observatório: sonda com capacidade de analisar várias faixas do espectro eletromagnético, efetuando observações astronômicas, geofísicas e espectrais, sem as distorções provocadas pela atmosfera terrestre.

Neste post, quando refiro aos robôs quero dizer rovers e não os landers.

Dito isso, vamos em frente.

Ná década de 1960 começou a exploração a Marte.

Os soviéticos lançaram várias sondas. Algumas tiveram sucesso parcial (orbitador ou flyby), mas não tiveram sucesso com seus landers (rovers ainda eram ficção científica). O programa MARS 1M (ou "Marsnik") falhou na decolagem ou ao entrar na órbita estacionária na Terra (Mars 1960A, 1960B, 1962A, 1962B). Depois, ainda na década de 1960, vieram as sondas do programa Mars 1 e do programa Zond, todas também sem sucesso.

Só nos anos 1970 que os soviéticos conseguiram. No programa M71, a sonda Cosmos 419 foi perdida na decolagem, mas as sondas Mars 2 e 3 chegaram - a Mars 2, em 1971, teve um problema em um computador e espatifou em Marte, sendo o primeiro objeto humano a tocar na superfície de Marte... Lembrou aqueles gols que o cara parece querer cruzar e erra o chute, acertando o gol meio sem querer (#Josimar86Feelings). Depois lançaram as Mars 4 e 5 (orbitares) e Mars 6 e 7 (flyby - lander) com sucesso relativo (os landers falharam). Ainda tentaram com as sondas Phobos, na década de 1980 (Phobos 1, para investigar a lua Phobos, e a Phobos 2, para investigar Phobos e Deimos). Não deu muito certo também.

Já os americanos tiveram mais sorte (sorte?). As sondas Ranger 1 a 9 (1961-1965) tinham com objetivo a Lua e o sucesso foi variado (só deu certo a partir da 7). As Mariner 1 e 2, em 1962, e a Mariner 5, em 1967, foram para Vênus (na verdade só as Mariner 2 e 5, porque a 1 falhou no lançamento). As Mariner 3 e 4, em 1964, foram para Marte (mais uma vez, apenas a 4, porque a 3 teve um probleminha e não conseguiu se separar do foguete). As Mariner 6 e 7 (em 1969) também foram para Marte, assim como a Mariner 9 (em 1971, o primeiro objeto humano a orbitar um corpo celeste que não fosse a Terra ou a Lua!). A Mariner 8 morreu na decolagem e a Mariner 10 (1973) foi para Vênus e Mercúrio.

As sondas do programa Surveyour (1964-1968) tiveram o objetivo de pousar na Lua como parte da preparação para o programa Apollo. Foram 7 sondas e, exceto pela 2 e 4 (chegaram na Lua, mas o pouso não foi "delicado", digamos assim), todas foram bem sucedidas. Aqui um detalhe: a Surveyor 3 foi visitada pelos astronautas da Apollo 12, Charles Conrad e Alan Bean.

Eu acho essa foto uma coisa simplesmente impressionante! O fato em si é MUITO impressionante: sair da Terra, voar por 3 dias por 300.000Km e pousar na Lua a 200 metros de onde estava um lander que havia chegado anos antes. Isso na década de 60! Fantástico!

Em 1975 foram lançados duas sondas pelo programa Viking (a Viking 1 e 2), ambas com uma parte obitador e uma lander. Ambas foram bem sucedidas e forneceram, dentre vários dados científicos, a primeira foto com boa qualidade da superfície de Marte e a foto mais famosa do planeta vermelho.



(Sim, o papel de parede que veio no seu iPhone 6 é uma foto tirada por uma Viking da década de 1970!)

Já as sondas Mariner 11 e 12 foram incorporadas por outro programa, o Voyager. Esse ainda vai ter um post especial (já é a 3a ou 4a vez que prometo isso mas juro que vai sair).

Bom, Marte sempre se mostrou um planeta difícil para pouso. Ao contrário de Vênus que tem uma atmosfera super pressurizada (quase 100 vezes mais pressão que a da Terra) e que freia tudo (e implode também), Marte tem uma atmosfera mais fina e rarefeita (apenas 1% da atmosfera terrestre) e tem menos massa, ou seja, menos gravidade. Assim, após fazer um objeto chegar lá a vários milhares de quilômetros por hora, freiar isso na atmosfera rarefeita é um problema. E isso torna tudo a coisa bem interessante.

Os EUA até o momento foram os únicos a conseguirem pousar em Marte. Viking 1 e 2 em 1976, robôs depois disso.

Em 1997 pousaram a Mars Pathfinder (em Chryse Planitia, na região de Ares Vallis), que tinha o primeiro robô: Sojouner.

("Muito prazer, eu sou o Sojourney!")

Esse robozinho de 10kg rodou perto de seu lander por 83 sóis (85 dias). Veja mais aqui.

Em 2004 pousaram mais dois outros: Spirit e Opportunity. Esses dois robôs gêmeos pousaram em locais distintos: Spirit na cratera Gusev, onde viu claros indícios que houve regiões úmidas favoráreis à vida em Marte; Opportunity pousou no pólo norte de Marte, em Meridiani Planum, num lugar que acreditam ter sido a costa de um mar salgado em Marte.

("Muito prazer, eu sou o Spirit! Mas se você me chamar por Opportunity, eu também respondo!")

Os gêmeos pesavam 185kg. Spirit trabalhou até 2010 quando ficou preso em um banco de areia em uma posição que impedia o recarregamento de suas baterias solares. Percorreu quase 8km, 12x mais que o planejado; trabalhou por mais de 6 anos mesmo sendo previsto apenas 3 meses. Veja mais sobre o Spirit aqui!

Duas coisas legais que o Spirit gravou: um redemoinho de poeira e o por do Sol visto de outro planeta!



Seu irmão Opportunity trabalhou por mais de 15 anos (era previsto 3 meses também\), viajou por mais de 45km e só morreu quando uma tempestade de areia global em 2018 impediu que o rover recarregasse suas baterias por falta de energia solar suficiente. Veja mais aqui.

(Opportunity mostrando o escurecimento do dia marciano com a chegada da tempestade de areia)

Em 2012 chegou o Curiosity na cratera Gale. Este rover é significativamente maior que seus antecessores, pesando quase 900kg. Mais informações aqui.

(Spirit/Opportunity à esquerda, Sojourner ao cento e Curiosity à direita)

(Tamanho dos rovers comparados aos humanos)

Ao contrário dos rovers anteriores que dependiam de energia solar, o Curiosity é suprido por um pequeno reator nuclear que utiliza decaimento radioativo de 4,8kg de Plutônio-232, um isótopo que não consegue manter uma reação cadeia de fissão nuclear.

O Curiosity já percorreu quase 25km e está na ativa há quase 10 anos.

Aqui, o Curiosity mostra que o por do Sol em Marte é meio azulado (devido à atmosfera cheia de areia, que capta melhor o azul que outras cores).


Falei disso em 2017: apenas na Terra e Marte conseguimos ver um por do Sol. Nenhum outro planeta do Sistema Solar permite isso. Entre as luas, talvez apenas Titã, lua de Saturno, que tem atmosfera (de metano).

Curiosity inaugurou o novo modo de pousar em Marte da NASA. A sonda se aproxima, entra na atmosfera protegida por um escudo térmico, abre paraquedas em velocidade supersônica, utiliza um lander que desce até certa altura e desce o rover por um guindaste. Essas manobras foram apelidadas pela NASA de "7 minutos de terror", o tempo para o pouso em Marte. Ainda, devido à distancia de Marte a comunicação entre os dois planetas pode ter cerca de 8 minutos de atraso. Ou seja, quando chegasse aqui na Terra a informação que a sonda ainda estava a um minuto de entrar na atmosfera, ela, de fato, já estaria no solo de Marte, de um jeito (pousou) ou de outro (espatifou).

Como a Terra e Marte estão em órbitas diferentes em torno do Sol, a Terra leva 1 ano para completar uma órbita e Marte leva 1,9 anos (anos terrestres!). Lançar um objeto para Marte é como arremessar um objeto em um alvo em movimento. Assim, para transferir alguma coisa da órbita terrestre para a marciana com o menor consumo de combustível, é necessário esperar um certo alinhamento dos planetas, o que ocorre a cada 780 dias.

(Janelas de lançamento para Marte)


Essas distâncias estão em milhões de quilômetros. Dez milhões de Km são 0,55 minutos-luz. Isso quer dizer que alguma coisa viajando na velocidade da luz demora 0,55 minutos (pouco mais de 30 segundos) para percorrer 10 milhões de quilômetros. Assim, a distância varia de algo entre 80 milhões de km (4,5 minutos luz) a 400 milhões de dm (22 minutos luz).


(Trajetória da InSight)

(Vídeo da AFP que mostra como foi esperado o pouso do Curiosity)

Bom, agora em 2021 chegou em Marte o Perseverance.

O Perseverance foi baseado no Curiosity para contenção de custos. Pousou em Marte como o Curiosity e também tem um gerador de energia termelétrico baseado em decaimento de isótopo radioativo do Plutônio-238 como o Curiosity. É o rover com planejamento para durar mais tempo: pelo menos 668 sóis (687 dias terrestres). Veja mais informações aqui.

Só um adendo: o dia marciano dura 40 minutos a mais que o dia terrestre, por isso usam "sóis" como referência ao dia marciano (e por isso, a longo prazo, um número de sóis marcianos vai ser menor que o número de "sóis" terrestres).

Perserverance pousou na Cratera Jezero e está levando um nini-helicóptero (Ingenuity) para provar que é possível voar de modo diverso de jato em Marte (lembrem-se que é muito mais difícil voar lá, porque, apesar de ter gravidade menor, a atmosfera é muito rarefeita).

Este rover está levando o "álbum de fotografias" da família:


Ela também levou uma homenagem aos profissionais da saúde que estão atuando na pandemia pelo COVID-19. Uma homenagem bem legal!



Esse símbolo aí é "Bastão de Asclépio", símbolo da Medicina. Isso vem da mitologia grega, onde Asclépio, semideus, filho de Apolo, foi criado pelo centauro Quiron. Quiron teria ensinado a Asclépio a serventia das plantas medicinais. Asclépio teria se tornado médico e ressuscitado Hipólito e se tornado, assim, deus da Medicina.


Algumas coisas interessantes sobre o Perseverance e o Curiosity. Ambos têm dois computadores on-board, com memórias e processadores resistentes a radiação. Utilizam um RAD750, baseado no PowerPC 750 da IBM/Motorola, 32 bits, da 3a geração (PowerPC G3), de 1997 (o RAD750 é de 2001). Esse processador é contemporâneo do Pentium II mas é menor e gasta menos energia. Foi utilizado em alguns computadores da Apple, inclusive no iMac original (aquele com "sabores").




Esse RAD750 tem clock de 200MHz, um core, cache de 32KB, litografia de pré-históricos 150nm, 10 milhões de transístores, trabalha com temperaturas entre -55 e 125 °C, requer apenas 5W para funcionar (a placa mãe com o processador requer 10W apenas) e suportam mais de 100.000 rads (o processador suporta até 1.000.000 rads). Mil rads matam um pessoa...

Vários objetos fora da Terra utilizam esse processador: Curiosity e Perseverance, sonda Deep Impact, Telescópio espacial Fermi e Kepler, Sonda Juno, dentre outras.

("Olá, muito prazer! Eu sou o RAD750!")

Esse brinquedo aí custa singelos US$284,000.00 dólares! Cada!

Enquanto o Curiosity tem dois computadores principais com RAD750, 250KB de EEPROM, 256MB de memória RAM e 2GB de memoria flash, os do Perseverance têm 128MB de RAM rodando a 133MHz e acessa 4GB de memória não volátil.

Além disso, ambos possuem mais outros dois computadores: um com processador SPARC para controlar os motores e a propulsão do estágio de descida, ao chegar em Marte, e outro, também SPARC, que controla parte da movimentação e caixa do motor. Esses SPARCs, assim como os RAD750s, também são RISC (Reduced Instruction Set Computing). Vou fazer um outro post sobre RISC (e CISC) depois.

Ambos os rovers rodam um sistema operacional chamado VxWorks, do tipo RTOS (Real Time Operating System), muito utilizado em robótica, industria aeroespacial e médica, etc. É utilizado nos veículos que utilizam o RAD750, em aviões não tripulados, no Boeing 787, nos BMW iDrive, em diversos equipamentos da Toshiba, Bosch e Hyundai, em alguns roteadores Linksys, impressoras, em robôs cirúrgicos, equipamentos de radioterapia, etc. Esse SO foi escrito em C. Veja mais aqui e aqui.

Outra coisa legal foi que a sonda filmou sua chegada em Marte. Veja:


Não tenho palavras para descrever esse vídeo de tão legal que ele é!

Quando o paraquedas foi aberto, muitas pessoas viram um padrão estranho:


Claro, isso não estava aí à toa! Cada anel concêntrico representa uma palavra codificada em bits (vermelho é 1 e branco é 0). Cada 8 bits forma um byte que, somado com 64, dá um código ASCII para uma letra. Além disso também colocaram números representando a geolocalização do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL/NASA).



Essa frase é um "mantra" da própria NASA: "Dare Might Things", algo como "Ouse coisas poderosas". Essa frase é tirada de um discurso do presidente Theodore Roosevelt, de 1899"

“Far better it is to dare mighty things, to win glorious triumphs, even though checkered by failure, than to take rank with those poor spirits who neither enjoy much nor suffer much, because they live in the gray twilight that knows not victory nor defeat.”

Traduzindo, é algo como: "Muito melhor é ousar coisas poderosas, conquistar triunfos gloriosos, ainda que oprimidos pelo fracasso, do que se colocar ao lado daqueles pobres espíritos que não gozam muito nem sofrem muito, porque vivem no crepúsculo cinzento que não conhece vitória nem derrota."

Em 2013 a NASA já havia utilizado essa frase em um trailer sobre o pouso do Curiosity (veja aqui). Agora foram mais além!

Por último, um mapa que mostra as missões em Marte:


E é assim que a banda toca!

Enquanto os EUA colocam seu quinto robô para andar e explorar Marte, a gente aqui vai discutindo o BBB e tatuagem no cu da Anita. Estamos onde estamos com muito esforço e muito mérito! Não é fácil ser essa pocilga! Parabéns aos envolvidos!

E agora, com ajuda do STF, soltamos um bandido e vamos conduzir-lo à presidência da república de bananas. "E à beira do precipício, o Brasil tomou uma importante decisão e deu um passo à frente!"

Perseverança.

Tudo que nos resta é isso: perseverar. E não perder a esperança.

Por hoje é isso.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A vida de uma estrela

Pessoal,

Como falei outras vezes, este blog não se destina apenas a informações de computador e informática. Vou falar, ainda que ocasionalmente, de assuntos diversos de meu interesse. Este post será um desses: a vida de uma estrela.

Uma estrela é uma esfera de plasma, na maior parte do tempo de composta de hidrogênio, mantida íntegra por duas forças: uma absurda gravidade, que tende a comprimir tudo para o centro, e a pressão de radiação, gerada pela fusão nuclear dos átomos de hidrogênio, que tende a expandir essa esfera.

A estrela mais próxima é o Sol. Se especula que o Sol (e seu sistema solar) tenha sido formado a partir do colapso gravitacional de uma nebulosa (hipótese nebular). Essa nebulosa, estimada em 65 anos-luz de comprimento, teria se fragmentado e gerado varias estrelas. Esses fragmentos teriam cerca de 3-4 anos-luz de extensão. De algum fragmento ainda menor (entre 2.000-20.000 UA - uma UA é a distância média entre o Sol e a Terra, cerca de 150 milhões de km) teria surgido o nosso Sol. Especula-se que a razão do colapso gravitacional dessa nebulosa teria sido a explosão de uma supernova (baseado em estudos de isótopos de ferro em meteoritos) que teria causado regiões de alta densidade dentro da nuvem devido às ondas de choque.

Esta nebulosa começou a girar mais depressa e colapsou. Durante cerca de 100.000 anos, a força da gravidade, a pressão do gás, os campos magnéticos e a rotação causada pela contração da nebulosa, transformaram a nebulosa em um disco protoplanetário, de aproximadamente 200 UA com movimento de rotação, formando uma protoestrela no centro.

Grande parte de toda essa teoria foi vista e comprovada com o uso do Telescópio Espacial Hubble. Algumas fotos mostram esses discos protoplanetários e a protoestrela observadas na Nebulosa de Órion. Imagina-se que essa nebulosa onde o Sol se formou seja parecida com Órion.






Essa última foto, tirada pelo Telescópio Subaru, mostra o tamanho de um disco desses. A linha branca  interna representa o raio orbital de Urano, o penúltimo planeta do Sistema Solar!



Vários sites têm fotos e explicações interessantes sobre esses processos, como o site da Agência Espacial Européia (aqui e aqui) e NASA

A composição dessa nebulosa seria semelhante a do Sol hoje, formado principalmente de hidrogênio (74% da massa, 92% do volume) e hélio (24% da massa, 7% do volume). Os outros 2% são elementos mais pesados formados por nucleossíntese em estrelas anteriores (incluindo ferro, níquel, oxigênio, silício, enxofre, magnésio, cálcio e crômio).

Cerca de 50 milhões de anos após a criação desse disco, a temperatura e a pressão do núcleo do Sol tornou-se tão grande que o hidrogénio começou a fundir, criando uma fonte interna de energia que contraria a contração gravitacional até atingir um equilíbrio. Aqui a estrela "acende" e está na primeira fase de sua vida chamada de "sequência principal", período onde produz energia através da fusão do hidrogénio em hélio no seu núcleo (cerca de 90% da vida da estrela).

O tempo em que uma estrela permanece na sequência principal depende principalmente da quantidade de combustível que ela tem para fundir e da taxa a que ela o consome, isto é, da sua massa inicial e luminosidade. Estrelas grandes consomem seu combustível muito rapidamente e têm vida curta. Estrelas pequenas (chamadas anãs vermelhas) consomem seu combustível muito lentamente e duram dezenas ou centenas de bilhões de anos e ficam cada vez mais pálidas.

Se não há massa suficiente após a contração, o objeto começa a se esfriar e é chamada de Anã Marrom. Esse tipo de astro produz muito pouca energia e são mais parecidos com planetas como Júpiter do que com as estrelas. A massa mínima para acender as reações nucleares e formar uma estrela é de 50 vezes a massa de Júpiter. Portanto, falar que "faltou pouco para Júpiter virar uma estrela" é um exagero. Faltou muito. Mesmo se toda a massa que sobrou da criação do Sol fosse para Júpiter, ainda faltaria muito para virar uma estrela.

No início, as estrelas produzem o Hélio (He) a partir do Hidrogênio (H), depois o He é fundido com H e He formando elementos mais pesados, como Lítio, Carbono e Oxigênio. Essas reações ocorrem no núcleo da estrela. O que mantém as estrelas estáveis, como dito acima, é o equilíbrio entre a força gravitacional (que tende a puxar todo o seu conteúdo para o centro) e a pressão de radiação (que faz com que os gases se expandam).

A taxa de fusão nuclear depende muito da densidade e da temperatura do núcleo: uma taxa um pouco mais alta de fusão faz com que o núcleo aqueça, expandindo as camadas exteriores do Sol, e consequentemente, diminuindo a pressão gravitacional exercida pelas camadas externas e a taxa de fusão. Com a diminuição da taxa de fusão, as camadas externas contraem, aumentando sua pressão contra o núcleo solar, o que novamente aumentará a taxa de fusão fazendo repetir-se o ciclo. Ao final de alguns ciclos, a estrela começa a formar elementos pesados no núcleo e, dependendo do tamanho (massa) da estrela, o seu final será uma supernova ou uma anã branca.

Ao final de sua vida, a estrela não terá mais Hidrogênio, uma vez que ele foi todo convertido em Hélio. Neste momento, a fusão de hélio sustentará o Sol por cerca de 100 milhões de anos, quando então o hélio no núcleo solar esgotará. Como o Sol não possui massa o suficiente para converter carbono em oxigênio, não explodirá como uma supernova. Ao invés disso, após o término da fusão de hélio, intensas pulsações térmicas farão com que o Sol aumente de tamanho (gigante vermelha) e ejete suas camadas exteriores, formando uma nebulosa planetária. O único objeto que permanecerá após a ejeção será o extremamente quente núcleo solar, que resfriará gradualmente, permanecendo como uma anã branca com metade da massa atual mas com o diâmetro da Terra por bilhões de anos. Este cenário de evolução estelar é típico de estrelas de massa moderada e baixa.

À medida que estrelas de pelo menos 0,4 massa solar exaurem o estoque de hidrogênio em seu núcleo, suas camadas exteriores se expandem muito e se resfriam para formar uma gigante vermelha (descrito acima).  Estima-se que o Sol se tornará uma gigante vermelha em 5 bilhões da anos. Ele se expandirá até um raio de aproximadamente 01 UA, 250 vezes seu tamanho atual. Como uma gigante, o Sol perderá cerca de 30% da sua massa atual.

Numa gigante vermelha de até 2,25 massas solares, a fusão do hidrogênio ocorre numa camada que cobre o núcleo e, assim, o núcleo é comprimido o suficiente para iniciar a fusão do hélio. Neste momento a estrela começa a gradualmente reduzir o seu raio e a aumentar sua temperatura superficial novamente. Para estrelas maiores, a região do núcleo alterna diretamente da fusão do hidrogênio para a do hélio. Quando a estrela consome o hélio no seu núcleo, a fusão continua numa camada em torno do núcleo quente de carbono e oxigênio. A estrela segue então um caminho evolucionário paralelo à fase original de gigante vermelha, mas a uma temperatura superficial maior.

Em estrelas com massas muito grandes (mais de 9 massas solares), durante a sua fase de queima de hélio, ocorre expansão para formar supergigantes vermelhas. Quando este combustível se extingue no núcleo, elas podem continuar a fundir elementos mais pesados do que o hélio. O núcleo se contrai até que a temperatura e pressão sejam suficientes para fundir o carbono, neônio, oxigênio e silício. Próximo ao fim da vida da estrela, a fusão pode ocorrer ao longo de uma série de camadas (como de uma cebola) dentro da estrela. Cada camada funde um elemento diferente, com a mais externa fundindo hidrogênio, a seguinte o hélio e assim por diante. Assim, se inicialmente ela é toda de hidrogênio, a fusão fará seu núcleo ser de hélio; a medida que o processo avança, o núcleo de hélio é fundido em lítio e a camada acima de hidrogênio é fundida em hélio; posteriormente o lítio é fundido em carbono, a camada de hélio em lítio e cria-se um nova camada de hélio pela fusão do hidrogênio. Sucessivamente acontece formando neônio, oxigênio, silício e outros elementos mais pesados.

O estágio final da vida da estrela é atingido quando ela a produzir ferro. Como os núcleos de ferro são mais fortemente ligados do que quaisquer núcleos mais pesados, eles se fundem e não liberam energia. A partir daqui, o destino final da estrela depende da sua massa.

Uma estrela evoluída e de tamanho mediano começa a lançar suas camadas externas como uma nebulosa planetária e, se o que sobra for menor do que 1,4 massa solar, ela encolhe para se tornar um objeto relativamente pequeno (aproximadamente do tamanho da Terra), sem massa suficiente para que novas compressões ocorram, conhecido como anã branca. A matéria elétron-degenerada no interior de uma anã branca não é mais o plasma, apesar de as estrelas serem geralmente descritas como esferas de plasma. As anãs brancas finalmente se tornam anãs negras após longos períodos de tempo.



Em estrelas maiores, os eventos são muito mais dramáticos. A fusão continua até que o núcleo de ferro se torne tão grande (mais do que 1,4 massa solar) que ele não consegue mais suportar sua própria massa. Este núcleo repentinamente colapsa. À medida que o núcleo vai se colapsando, novos elementos mais pesados são formados. 

Após algumas centenas de milhares de anos trabalhando na fusão de hélio, a contração do núcleo permitirá a fusão do carbono, e as coisas mudarão muito rapidamente depois disso. O resultado pode ser a produção de elementos como oxigênio, neônio e magnésio, mas leva centenas de anos para isso ser concluído. Quando o carbono se torna escasso no núcleo, ele se contrai e aquece novamente, levando à fusão de neônio, o que dura cerca de um ano. Em seguida, vem a fusão de oxigênio durante alguns meses e depois a fusão de silício, que dura menos de um dia. Os elementos mais pesados são formados nas últimas horas antes da explosão da estrela. É impressionante imaginar que a quantidade de elementos pesados existentes na Terra (todos ferro, chumbo, ouro, prata, etc) foi formado nos últimos minutos de vida de uma estrela. Isso talvez nos dê uma impressão do tamanho que é um corpo celeste desses.

A onda de choque formada por este colapso súbito faz o resto da estrela explodir em uma supernova. As supernovas são tão brilhantes que podem momentaneamente ofuscar toda a galáxia em que ela se encontra. Quando ocorrem dentro da Via Láctea, as supernovas têm sido historicamente vistas por observadores a olho nu, como “novas estrelas” onde antes não havia nenhuma.



(Imagina-se que Betelgeuse dará esse show espetacular
quando explodir em uma supernova!)

A maior parte da matéria de uma estrela é expulsa pela explosão de uma supernova (formando nebulosas como a do Caranguejo) e o que sobra é uma estrela de nêutrons (que às vezes se manifesta como um pulsar) ou, em caso de estrelas maiores (grandes o suficiente para deixar um remanescente estelar maior do que quatro massas solares), um buraco negro.

Betelgeuse, uma estrela com cerca de 20 massas solares, 900 vezes o diâmetro do Sol e que emite cerca de 125.000 vezes mais energia que o Sol, é o candidato do momento a explodir em uma supernova. Está a 650 anos-luz da Terra e seu show durará alguns meses, gerando um brilho equivalente a uma lua cheia! Atualmente ela já queimou todo o hidrogênio e está fritando o hélio neste momento (se não estiver explodido e a luz ainda não ter chegado ainda, é claro). Calcula-se que tenha cerca de 8,5 milhões de anos e e que deve queimar o hélio ainda por uns bons milhares de anos. Daí deve sair uma supernova e posteriormente uma estrela de nêutrons com uma nebulosa cabulosa.

As camadas exteriores expulsas de estrelas que morrem contêm elementos pesados que podem ser reciclados durante a formação de novas estrelas. Esses elementos pesados permitem a formação de planetas rochosos como os quatro planetas interiores do sistema Solar.

O vídeo abaixo mostra uma concepção artística da explosão da estrela que resultou na Nebulosa do Carangueijo. Esta nebulosa é o remanescente dessa explosão observada em 1.054 e.c.. Ela tem 5,5 anos luz de raio e está há 6.500 anos luz da Terra (ou seja, a explosão ocorreu há uns 7.500 anos atrás...).


Após a explosão da supernova, restou uma estrela de nêutrons no interior dessa nebulosa.


As estrela de nêutrons são os remanescentes de estrelas gigantes, com massas maiores que 9 massas solares. A gravidade, devido a massa enorme dessas estrelas, somada à onda de impacto pelo colapso da estrela, forma um núcleo estelar absurdamente denso.

A matéria que compõe todos os objetos está sob a forma de átomos. Os átomos tem um núcleo minúsculo formado essencialmente de nêutrons e prótons, e uma nuvem de elétrons (quase pontuais) circundando-o. Para se ter uma idéia do tamanho do núcleo, pense num átomo como sendo um grande estádio de futebol: a nuvem de elétrons se estenderia até a arquibancada, enquanto o núcleo seria do tamanho de uma bola de futebol colocada no meio do campo. Numa estrela de nêutrons não há mais átomos, uma vez que os prótons se juntaram ao elétrons formando nêutrons. No mesmo espaço que ocupava um átomo, há agora uma massa bilhões de vezes maior. É como se o estádio estivesse repleto de bolas até o teto!

As estrelas de nêutrons podem girar muito rapidamente, produzindo um forte campo magnético que consegue arrancar elétrons que fluem para a magnetosfera onde são acelerados. Estes elétrons acelerados emitem radiação em um feixe estreito ao longo das linhas do campo magnético. Se ao girar, o eixo do campo magnético ficar na nossa linha de visão, veremos um pulso de radiação eletromagnética (como a luz de um farol girante).


Essas estrelas são chamadas de Pulsares. Assim, todo pulsar é uma estrela de nêutrons, ou seja, um remanescente de uma estrela massiva que explodiu em uma supernova.

No centro da nebulosa do Carangueijo há um pulsar:

(Pulsar: repare no pulso mais forte e no
interpulso mais fraco)

Em um post futuro vou falar sobre as missões espaciais robóticas. Mas para ilustrar, as naves Pionner e Voyager levaram uma placa mostrando a localização da Terra com base em pulsares conhecidos.


Não confunda pulsar com quasar. Enquanto um pulsar é uma estrela de nêutrons, um quasar é, segundo a teoria atualmente aceita, um buraco negro super-massivo que emite uma quantidade enorme de energia (obviamente não é o buraco negro que emite a energia, mas sim o disco de acreção).

(Imagem em raio X feita pelo Chandra do quasar PKS 1127-145, uma fonte lu-
minosa de raios-X e luz visível a cerca de 10 bilhões de anos-luz da Terra. Um 
enorme jato de raio-X estende-se a pelo menos um milhão de anos-luz do quasar)

Em estrelas ainda maiores, acima de 30 massas solares, a explosão final resulta em buracos negros. A força gravitacional é tanta que nada pode impedir que a sua matéria caia indefinidamente até o centro.

Se nas estrelas de nêutrons sabemos que a os elétrons e o prótons se fundiram em nêutrons, no buraco negro a matéria está em um estado desconhecido. Em princípio esses objetos seriam pontuais, mas possuem massas bem maiores que a do Sol, ou seja, são muito mais densos. Próximo ao buraco negro o campo gravitacional é muito intenso. Existe uma certa distância do buraco negro, chamada de horizonte dos eventos a partir da qual nada pode sair, nem a luz! A atração gravitacional fora do horizonte é a mesma que seria produzida por qualquer outro corpo de mesma massa. Por exemplo, se o Sol fosse trocado por um buraco negro com uma massa solar, não haveria nenhum impacto para os planetas, pelo menos em relação à gravidade. Um buraco negro não pode ser visto diretamente, visto que não emite nenhum tipo de luz (a gravidade é tanta que nem a luz consegue escapar). No entanto, a matéria que orbita o buraco negro começa a girar muito rápido entorno do buraco negro, formando um disco de acreção que emite muita luz.

Em 2019 tiramos, pela primeira vez uma foto de um buraco negro. A imagem é do buraco negro super-massivo presente no centro da galáxia Messier 87, uma galáxia elíptica super-gigante na constelação de Virgem. Esse buraco negro, também chamado de M87 tem algumas bilhões de massas solares. Esse buraco negro é cercado por um disco de acreção de gás ionizado em rotação, aproximadamente perpendicular ao jato relativístico (jato de radiação ejetado pelo material ionizado do disco de acreção), que gira com uma velocidade de rotação de até 1.000 km/s e se estende por um diâmetro de 0,12 parsecs (25.000 UA; 0,39 anos-luz). Isso é quase o tamanho do sistema solar inteiro (incluído a nuvem de Oort)! Esse buraco negro absorve gás por acreção a uma taxa de uma massa solar a cada 10 anos (cerca de 90 massas terrestres por dia). O raio de Schwarzschild do M87 (que define a localização do horizonte de eventos dentro do qual nada consegue escapar) é de 0,00059 parsecs (0,0019 anos-luz), ou cerca de 120 vezes a distância da Terra ao Sol (120UA). Para efeito de comparação, quando Plutão está mais distante do Sol, está a 50UA de distância...


Algumas informações ajudam a entender os tamanhos, distâncias e pesos citados acima. Vamos a algumas:

Densidades:
MaterialDensidade (kg/m3)
Água1
Ósmio22,61
Núcleo do Sol150.000
Anã Branca1.000.000.000 ou 1x10ˆ9
Estrela de Nêutrons8,4x10ˆ16
Buraco Negro2x10ˆ30
* O Ósmio (Os, número atômico 76) é considerado a substância natural mais densa


Modelo escalonado do Sistema Solar:
ObjetoDiâmetro real (km)Distância real (milhões de km)Tamanho escalonado (cm)Distância (m)
Sol1.392.00016,51 (bola de futebol)
Mercúrio4.88057,910 0,058 (minúsculo! grão de areia)6,9 ( 7 passos)
Vênus12.104108,16 0,14 (grão de areia)12,8 (13 passos)
Terra12.742149,6 0,15 (grão de areia)17,7 (18 passos) 
Marte6.780228,0 0,08 (quase 1 mm)27,0 (27 passos) 
Júpiter139.822778,4 1,7 (uma moeda de um centavo de real)92,3 (92 passos) 
Saturno116,4641.427,0 1,4 (um botão)169,3 (169 passos) 
Urano50.7242.869,6 0,6 (metade do botão)340,4 (340 passos) 
Netuno49.2484.496,6 0,6 (metade botão)533,3 (533 passos) 
Plutão2.2745.913,5 0,03 (pedaço pequeno de pó)701,4 (701 passos) 
Nuvem de Oort 11.200.000 1.328.400 (1.328 km) 
Proxima Centauri40.493.000 4,5 (bola de handbol) 4.802.700 (4.803 km) 

A distância da Terra à Lua é 300.000km. A velocidade da luz é cerca de 300.000km/s. Assim, a luz (e a onda de rádio para comunicação) demora um segundo para chegar à Lua e mais um para voltar.

(Escala correta entre Terra e Lua de acordo com seus diâmetros)

A Nuvem de Oort é uma nuvem esférica enorme composta por trilhões de objetos que cercam o Sol e é o remanescente do disco protoplanetário da formação do Sistema Solar. Seu raio extende-se de aproximadamente 7,5 a 15 trilhões de quilômetros. No nosso modelo, a distância do Sol à metade Nuvem de Oort seria 1.338 km (distância entre Belo Horizonte a Porto Alegre ou São Paulo a Salvador).

Proxima Centauri é a estrela mais próxima ao Sol. A distância a Proxima Centauri seria maior que a de Los Angeles a New York e quase a distância entre Buenos Aires e Caracas. Se uma nave conseguisse viajar à velocidade da luz (300.000 km/s), levaríamos 4,3 anos pra alcançar (negligenciando a gravidade do Sol) Proxima Centauri! 

Você deve ter notado que a escala de grandeza em astronomia é muito maior do que aquela a que estamos acostumados a lidar no nosso dia-a-dia. Por isso usamos unidades de distância maiores, como a Unidade Astronômica (UA) para descrever distâncias entre os planetas e o Ano-luz para distâncias entre as estrelas. Uma UA é a distância entre a Terra e o Sol, aproximadamente 149,6 milhões de Km. Por exemplo, Júpiter está a (778,4 milhões de km)/(149,6 milhões de km) = 5,203 UA do Sol. Um ano-luz é a distância percorrida pela luz em um ano. Ao contrario do que possa parecer, um ano-luz não é uma medida de tempo, mas de distância. 

1 Ano-luz = (299.800 km/s) × (31.560.000 seg/ano) = 9.461.000.000.000 km (9,461 trilhões km)

Outra unidade utilizada é o Parsec (pc). Um parsec é a distância da Terra à qual o raio da órbita da Terra (01 UA) é vista com um tamanho angular de 1 segundo de arco (1 grau/3600). Em outras palavras, é a distância de um objeto que apresenta paralaxe de 1 segundo de arco.

 
Essa distância corresponde a 206.265 UA ou 3,26 Anos-luz ou 3,1 x 1013 km.

Para completar, vou colocar dois vídeos. O primeiro é sobre uma montagem com escala real mostrando as distâncias do Sistema Solar. O segundo é uma animação mostrando como seria sair do Sistema Solar a partir do Sol à velocidade da Luz.




Até a próxima!