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domingo, 18 de maio de 2025

Por que 1 + 1 = 2?

Pessoal,

"1 + 1 = 2". Três símbolos que parecem tão óbvios quanto o sol nascer. Desde criança, aceitamos isso como uma verdade inquestionável, mas, como alguém que adora desmontar ideias até entender cada pequeno pedaço, comecei a me perguntar: por que isso é verdade? Essa pergunta, aparentemente trivial, é uma porta para um universo fascinante de lógica, matemática formal e reflexões filosóficas. Neste post, vou provar rigorosamente que 1 + 1 é igual a 2, usando os axiomas de Peano, a teoria dos conjuntos, demonstrações em bases numéricas (binária e hexadecimal) e explorando o que isso significa para nossa visão do mundo. Se você curte mergulhar fundo no "porquê" das coisas, pegue um café e vamos entender essa história!

A Intuição: Contando Maçãs

Antes de entrarmos na matemática pesada, vamos começar com a intuição que todos compartilhamos. Pego uma maçã, coloco outra ao lado: quantas tenho? Duas. Levanto um dedo, mostro mais um: dois dedos. Essa ideia de combinar uma unidade com outra e chamar o resultado de "2" é tão natural que parece não precisar de explicação. O "1" é uma unidade, o "+" é a ação de juntar, e o "2" é o nome do total. Mas essa intuição, por mais poderosa que seja, é apenas o começo. Para provar que 1 + 1 = 2 de verdade, precisamos de um sistema lógico que não dependa de maçãs ou dedos. Vamos construir isso agora.

A Matemática Formal: Os Axiomas de Peano

Para explicar por que 1 + 1 = 2 de forma incontestável, usamos os axiomas de Peano, um conjunto de regras que define os números naturais — o conjunto ℕ, que inclui 0, 1, 2, 3, … . Esses axiomas foram propostos por Giuseppe Peano, um matemático italiano do final do século XIX, conhecido por formalizar a matemática com precisão lógica, criando uma base sólida para a aritmética que usamos hoje. Seus axiomas são os alicerces da matemática dos números naturais.

"Ciao, sono Giuseppe Peano!"


Um axioma (do grego: axiosἄξιος, que significa digno ou válido) é uma proposição ou afirmação aceita como verdade sem necessidade de demonstração ou prova. É uma verdade fundamental, inquestionável, que serve como ponto de partida para a construção lógica de uma teoria ou sistema matemático. 

Na formulação clássica de Peano, há 9 axiomas, que cobrem a estrutura dos números naturais e as operações de adição e multiplicação. Algumas apresentações modernas reduzem isso a 5 axiomas, tratando adição e multiplicação como definições separadas, mas aqui seguiremos a versão completa com 9, que é mais abrangente e inclui tudo o que precisamos para entender 1 + 1 = 2. Vou tentar explorar cada axioma com detalhes, explicando seu significado, sua função e como ele contribui para a prova.

Axioma 1: Zero é um número natural

Enunciado: Existe um número natural chamado 0.

Explicação: Este axioma estabelece o ponto de partida da aritmética. O número 0 é o elemento inicial do conjunto ℕ, a partir do qual todos os outros números serão construídos. Pense no 0 como a "semente" da sequência dos números naturais. Sem esse axioma, não teríamos um começo definido, e a estrutura da aritmética desmoronaria. Para nossa prova de 1 + 1 = 2, o 0 é crucial porque ele aparece na definição de adição (como veremos nos axiomas 6 e 7).

Exemplo: Imagine que você está contando objetos, mas não tem nenhum. Esse "nenhum" é representado pelo 0, que é um número natural tão válido quanto 1 ou 2.

Axioma 2: O sucessor de um número natural é um número natural

Enunciado: Para todo número natural n, existe um sucessor S(n) que também é um número natural.

Explicação: Este axioma introduz a ideia de "próximo número". A função sucessor, S, pega um número e retorna o seguinte na sequência. Por exemplo, S(0) é 1, S(1) é 2, S(2) é 3, e assim por diante. Esse axioma garante que o conjunto ℕ é infinito, pois sempre podemos gerar um novo número aplicando S. Ele é essencial para definir os números 1 (S(0)) e 2 (S(S(0))) na nossa prova de 1 + 1 = 2, porque sem o sucessor, não teríamos como construir a sequência dos números naturais.

Exemplo: Se você tem 3 maçãs, o sucessor de 3 é 4, que representa o que você teria se adicionasse mais uma maçã. O axioma garante que esse "próximo número" sempre existe.

Axioma 3: Zero não é sucessor de nenhum número natural

Enunciado: Não existe nenhum número natural n tal que S(n) = 0.

Explicação: Este axioma estabelece que 0 é o "início" da sequência dos números naturais e não pode ser alcançado voltando de outro número. Em outras palavras, 0 é único porque não é o sucessor de ninguém. Isso impede que a sequência forme um "ciclo" (ex.: um número cujo sucessor fosse 0, voltando ao início). Para 1 + 1 = 2, esse axioma é importante porque garante que os números que construímos (S(0) = 1, S(S(0)) = 2) são distintos do 0 e formam uma progressão linear.

Exemplo: Imagine uma escada onde o degrau mais baixo é o 0. Não há degrau abaixo dele, porque nenhum número tem 0 como sucessor.

Axioma 4: Números distintos têm sucessores distintos

Enunciado: Se m ≠ n, então S(m) ≠ S(n) (ou, equivalentemente, se S(m) = S(n), então m = n).

Explicação: Este axioma garante que a função sucessor é injetiva, ou seja, cada número tem um sucessor único, e números diferentes não podem compartilhar o mesmo sucessor. Isso assegura que todos os números naturais são distintos: não há "colisões" na sequência 0, S(0), S(S(0)), … . Para nossa prova, esse axioma é crucial porque confirma que S(0) = 1 e S(S(0)) = 2 são números diferentes, e que a construção de 2 a partir de 1 é única.

Exemplo: Se você tem 5 maçãs e outra pessoa tem 6, os sucessores (6 e 7, respectivamente) são diferentes, porque 5 e 6 são distintos.

Axioma 5: Princípio da indução

Enunciado: Se um conjunto K contém 0 e, para todo n em K, contém S(n), então K contém todos os números naturais.

Explicação: Este axioma, conhecido como princípio da indução matemática, é o que permite generalizar propriedades para todos os números naturais. Ele diz que, se uma propriedade é verdadeira para 0 e, sempre que for verdadeira para um número n, também for verdadeira para o próximo número S(n), então ela vale para todo n ∈ ℕ. Esse axioma é como uma corrente infinita: se você segura o primeiro elo (0) e cada elo segura o próximo, você segura toda a corrente. Para 1 + 1 = 2, a indução é usada para garantir que a adição (definida nos axiomas 6 e 7) é consistente para todos os números, incluindo nossa soma específica.

Exemplo: Suponha que você quer provar que todos os números naturais são pares ou ímpares. Você verifica que 0 é par, e que, se n é par ou ímpar, S(n) alterna (par → ímpar, ímpar → par). Por indução, isso vale para todos.

Axioma 6: Adição com zero

Enunciado: Para todo número natural a, a + 0 = a.

Explicação: Este axioma define o comportamento da adição quando um dos operandos é 0. Ele estabelece que 0 é o elemento neutro da adição, ou seja, somar 0 a qualquer número não altera seu valor. Esse axioma é diretamente usado na prova de 1 + 1 = 2, como veremos, porque ele simplifica a soma quando encontramos um termo com 0 (ex.: S(0) + 0). Sem esse axioma, a adição não teria uma base para começar.

Exemplo: Se você tem 5 maçãs e não adiciona nenhuma (+ 0), continua com 5.

Axioma 7: Adição com sucessor

Enunciado: Para todos números naturais a e b, a + S(b) = S(a + b).

Explicação: Este axioma define a adição de forma recursiva. Ele diz que somar um número a ao sucessor de b é o mesmo que tomar o sucessor da soma de a com b. Esse axioma é o coração da nossa prova de 1 + 1 = 2, porque ele nos permite reduzir a soma 1 + 1 (que é S(0) + S(0)) a uma expressão envolvendo S(0) + 0, que o axioma 6 resolve. Ele também garante que a adição é consistente para números maiores.

Exemplo: Se você tem 3 maçãs e adiciona 4 (que é o sucessor de 3), isso é o mesmo que adicionar 3 a 3 e depois tomar o sucessor (6 + 1 = 7).

Axioma 8: Multiplicação com zero

Enunciado: Para todo número natural a, a × 0 = 0.

Explicação: Este axioma define o comportamento da multiplicação quando um dos operandos é 0. Ele estabelece que o produto de qualquer número por 0 é 0, o que é consistente com a ideia de que multiplicar por 0 equivale a "não contar nada". Embora a multiplicação não seja diretamente necessária para provar 1 + 1 = 2, esse axioma completa a estrutura da aritmética, mostrando como as operações se interligam. Ele também é importante para sistemas maiores que usam adição e multiplicação juntas.

Exemplo: Se você tem 5 caixas, mas cada uma contém 0 maçãs, o total é 0.

Axioma 9: Multiplicação com sucessor

Enunciado: Para todos números naturais a e b, a × S(b) = (a × b) + a.

Explicação: Este axioma define a multiplicação de forma recursiva. Ele diz que multiplicar a pelo sucessor de b é o mesmo que multiplicar a por b e depois adicionar a. Esse axioma completa a definição da multiplicação, tornando-a consistente com a adição. Embora não usemos multiplicação em 1 + 1 = 2, esse axioma é parte da visão completa de Peano, que queria uma aritmética totalmente formalizada.

Exemplo: Para calcular 3 × 4 (onde 4 = S(3)), temos 3 × S(3) = (3 × 3) + 3 = 9 + 3 = 12.

Provando 1 + 1 = 2

Agora, vamos usar os axiomas para provar que 1 + 1 = 2, passo a passo, com cada referência a um axioma explicada claramente para que você acompanhe sem precisar voltar:

  • Passo 1: Sabemos que 1 = S(0), onde S(0) é o sucessor de 0 (axioma 2 - sucessor de número natural, que garante que todo número natural tem um sucessor que também é um número natural). Portanto, 1 + 1 = S(0) + S(0), pois estamos somando dois números 1, cada um definido como S(0).
  • Passo 2: Aplicamos a definição de adição para S(0) + S(0). Pelo axioma 7 (adição com sucessor, que diz que para quaisquer a e b, a + S(b) = S(a + b)), temos que S(0) + S(0) = S(S(0) + 0). Aqui, a = S(0) e b = 0, então a soma S(0) + S(0) é o sucessor da soma S(0) + 0.
  • Passo 3: Agora, precisamos calcular S(0) + 0. Pelo axioma 6 (adição com zero, que estabelece que para todo a, a + 0 = a), temos que S(0) + 0 = S(0). Como S(0) é o número 1 (definido no passo 1), essa soma nos dá S(0) = 1.
  • Passo 4: Substituímos o resultado de volta na expressão do passo 2: S(S(0) + 0) = S(S(0)), pois S(0) + 0 = S(0). Agora, observamos que S(S(0)) é o sucessor de S(0) (axioma 2 - sucessor de número natural). Como S(0) = 1, temos S(S(0)) = S(1), que é o número 2, pois o sucessor de 1 é 2.
  • Passo 5: Portanto, 1 + 1 = S(0) + S(0) = S(S(0) + 0) = S(S(0)) = 2. O axioma 4 (números distintos têm sucessores distintos, que garante que se S(m) = S(n), então m = n) assegura que S(S(0)) = 2 é um número único, distinto de 0 e 1, confirmando que o resultado é exatamente o número 2.

Essa sequência de passos mostra que 1 + 1 = 2 segue diretamente dos axiomas de Peano, com cada etapa fundamentada em uma regra específica.

Consistência da Adição

Para garantir que a adição definida pelos axiomas 6 e 7 é válida para todos os números naturais, não apenas para 1 + 1, usamos o axioma 5 (princípio da indução, que diz que se uma propriedade é verdadeira para 0 e, se verdadeira para n, também é para S(n), então é verdadeira para todos os números naturais). Vamos verificar que a adição é bem definida por indução:

  • Caso base: Para o primeiro operando a = 0, precisamos verificar que a adição funciona para qualquer b.
    • Pelo axioma 6 (adição com zero, que diz a + 0 = a), temos 0 + 0 = 0, que está definido.
    • Pelo axioma 7 (adição com sucessor, que diz a + S(b) = S(a + b)), temos 0 + S(b) = S(0 + b). Isso depende de 0 + b estar definido, que verificaremos no passo indutivo.
  • Passo indutivo: Assumimos que a adição está definida para a = n (ou seja, n + b está definido para todo b). Agora, para a = S(n) (o sucessor de n, pelo axioma 2 - sucessor de número natural), verificamos:
    • Pelo axioma 6 (adição com zero), S(n) + 0 = S(n), que está definido.
    • Pelo axioma 7 (adição com sucessor), S(n) + S(b) = S(S(n) + b), que depende de S(n) + b estar definido. Como assumimos que n + b está definido para todo b, e S(n) + b segue pela recursão do axioma 7, a adição para S(n) também está definida.

Pelo axioma 5 (princípio da indução), como a adição está definida para a = 0 e, se definida para a = n, também está para a = S(n), ela está definida para todos os números naturais. Isso garante que nossa prova de 1 + 1 = 2 não é um caso isolado, mas parte de um sistema de adição consistente.

Por que Isso é Rigoroso?

Essa derivação é inquestionável porque:

  • Os axiomas 1–5 garantem que ℕ é uma estrutura bem definida, com números distintos (axioma 4 - números distintos têm sucessores distintos) e uma sequência infinita (axioma 2 - sucessor de número natural).
  • Os axiomas 6–7 definem a adição de forma recursiva, usando o sucessor, que é primitivo.
  • O axioma 5 (princípio da indução) assegura que a adição é consistente para todos os números.
  • Os axiomas 8–9, embora não usados diretamente, completam a aritmética.

Essa prova é como uma máquina lógica perfeita: cada peça se encaixa, e o resultado é inabalável. Mas há outra abordagem, ainda mais fundamental, que constrói os números do absoluto zero: a teoria dos conjuntos.

A Teoria dos Conjuntos: Números a Partir do Nada

A teoria dos conjuntos, desenvolvida por Georg Cantor e outros, é o alicerce da matemática moderna. Nela, tudo — incluindo os números — é definido como conjuntos, que são coleções de objetos (elementos). Essa abordagem nos permite construir os números naturais a partir do conjunto vazio, denotado ∅.

Definindo Números como Conjuntos

Na construção de von Neumann, os números naturais são:

  • 0 = ∅, o conjunto vazio, com zero elementos.
  • 1 = {∅}, o conjunto com o conjunto vazio, com um elemento.
  • 2 = {∅, {∅}}, o conjunto com os conjuntos de 0 e 1, com dois elementos.
  • 3 = {∅, {∅}, {∅, {∅}}}, com três elementos.
  • Em geral, n = {0, 1, 2, …, n-1}, um conjunto com n elementos.

O sucessor é S(n) = n ∪ {n}, alinhado com os axiomas de Peano.

Definindo a Adição

A adição usa a união disjunta. Para 1 + 1:

  • 1 = {∅}, cardinalidade 1.
  • Tomamos dois conjuntos disjuntos: A = {(0, ∅)} e B = {(1, ∅)}.
  • A união A ∪ B = {(0, ∅), (1, ∅)} tem cardinalidade 2, equivalente a 2 = {∅, {∅}}.

Por que Isso é Poderoso?

A teoria dos conjuntos reduz a aritmética a conjuntos e pertencimento, construindo números do "nada" (∅). Isso dá uma base universal para 1 + 1 = 2.

Demonstração em Outras Bases: Binária e Hexadecimal

A verdade de 1 + 1 = 2 é universal, mas sua representação varia por base.

Base Binária (Base 2)

Na base 2, dígitos são 0 e 1:

  • 0₁₀ = 0₂
  • 1₁₀ = 1₂
  • 2₁₀ = 10₂ (2 = 1 × 2¹ + 0 × 2⁰)
  • 1₂ + 1₂ = 10₂, que é 2₁₀.

Base Hexadecimal (Base 16)

Na base 16, dígitos vão de 0 a F:

  • 1₁₀ = 1₁₆
  • 2₁₀ = 2₁₆
  • 1₁₆ + 1₁₆ = 2₁₆, que é 2₁₀.

Generalização

Em qualquer base b ≥ 2, 1 + 1 = 2: 1₂ + 1₂ = 10₂, 1ᵦ + 1ᵦ = 2ᵦ para b ≥ 3.

Implicações Filosóficas: O que Significa "1 + 1 = 2"?

Provar que 1 + 1 = 2 é mais do que um exercício matemático — é uma janela para questões profundas sobre a natureza da verdade, da realidade e do conhecimento. Essa equação simples, que parece tão trivial, nos força a perguntar: por que ela é verdadeira, e o que isso diz sobre o mundo? Vamos explorar algumas perspectivas filosóficas que tornam essa reflexão tão fascinante.

Platonismo: Uma Verdade Cósmica

Imagine um mundo além do físico, onde ideias perfeitas existem eternamente. Para os platonistas, como Platão e o matemático Kurt Gödel, os números e suas propriedades habitam esse reino abstrato, independente de mentes humanas ou do universo material. Nesse sentido, 1 + 1 = 2 não é algo que inventamos, mas uma verdade que descobrimos. Os números 1 e 2, e a operação de adição, são como estrelas em um céu matemático, brilhando antes mesmo de olharmos para elas. Quando contamos duas maçãs ou observamos um sistema binário de estrelas, estamos apenas enxergando reflexos dessa realidade eterna.

Reflexão: Se 1 + 1 = 2 é uma lei cósmica, isso sugere que o universo tem uma ordem matemática intrínseca. Mas como acessamos esse mundo ideal? É como se nossa mente tivesse um passe VIP para um reino que não podemos tocar.

Formalismo: Um Jogo de Símbolos

Agora, imagine a matemática como um tabuleiro de xadrez, com regras criadas por nós. Para os formalistas, como David Hilbert, 1 + 1 = 2 é verdadeiro porque seguimos as regras dos axiomas de Peano ou da teoria dos conjuntos, como jogadores obedecendo as instruções de um jogo. A verdade não está em um mundo abstrato, mas na consistência do sistema. Curiosamente, em outros sistemas, como a aritmética modular (ex.: módulo 2), 1 + 1 = 0, mostrando que a "verdade" depende das regras que escolhemos.

Reflexão: Se 1 + 1 = 2 é apenas um resultado das nossas regras, por que esse "jogo" descreve o mundo tão bem? Será que criamos a matemática para espelhar a realidade, ou ela é só uma coincidência útil?

Intuicionismo: Uma Construção da Mente

Para os intuicionistas, como L.E.J. Brouwer, a matemática não existe fora da nossa mente. 1 + 1 = 2 é verdadeiro porque podemos construí-lo mentalmente: pegamos uma unidade, juntamos outra, e verificamos que o resultado é duas. A verdade matemática depende da nossa capacidade de imaginar e validar cada passo. Diferentemente do platonismo, que vê os números como entidades externas, o intuicionismo coloca a mente humana no centro, como a fonte de toda a matemática.

Reflexão: Se 1 + 1 = 2 é uma construção mental, isso significa que a matemática é subjetiva? Ou será que nossas mentes estão sintonizadas com uma lógica universal que compartilhamos?

A Misteriosa Eficácia da Matemática

Em 1960, o físico Eugene Wigner escreveu um artigo famoso, The Unreasonable Effectiveness of Mathematics in the Natural Sciences, perguntando por que equações como 1 + 1 = 2 descrevem o mundo físico com tanta precisão. Por que, ao contar duas maçãs ou calcular a órbita de dois planetas, a matemática sempre acerta? Algumas possibilidades:

  • Evolução: Nossos cérebros evoluíram para perceber padrões que refletem a estrutura do universo, como a soma de unidades.
  • Ordem Cósmica: O universo pode ser inerentemente matemático, e 1 + 1 = 2 é uma lei tão fundamental quanto a gravidade.
  • Invenção Humana: Talvez a matemática seja uma ferramenta que moldamos para descrever o mundo, e sua eficácia é apenas um reflexo da nossa engenhosidade.

Reflexão: Quando usamos 1 + 1 = 2 para construir pontes ou enviar naves ao espaço, estamos descobrindo o universo ou apenas contando histórias que funcionam? Esse mistério é o que torna a matemática tão fascinante.

Limites da Certeza: Gödel e a Incompletude

Kurt Gödel, com seus teoremas da incompletude, jogou uma bomba na ideia de que podemos provar todas as verdades matemáticas. Ele mostrou que, em qualquer sistema formal complexo (como os axiomas de Peano), há afirmações verdadeiras que não podem ser provadas dentro do sistema. Embora 1 + 1 = 2 seja seguro nos axiomas de Peano, sua validade depende de aceitarmos esses axiomas como verdadeiros. Se mudarmos as regras, como na aritmética modular, o resultado pode ser diferente.

Reflexão: Se até uma verdade simples como 1 + 1 = 2 depende de premissas, será que existe alguma certeza absoluta? Ou estamos sempre construindo castelos sobre fundações que escolhemos acreditar?

Contexto Cultural: Uma Linguagem Universal?

A notação "1 + 1 = 2" é uma convenção ocidental, com símbolos árabes e sinais que evoluíram ao longo de séculos. Mas o conceito de combinar duas unidades é universal. Antigos egípcios, com hieróglifos, ou povos indígenas, com sistemas de contagem oral, chegavam ao mesmo resultado, mesmo sem nossos símbolos. Isso sugere que 1 + 1 = 2 transcende culturas, apontando para uma verdade que vai além da linguagem.

Reflexão: Se diferentes culturas convergem para 1 + 1 = 2, isso reforça a ideia de uma ordem universal ou apenas mostra que todos enfrentamos os mesmos problemas práticos, como contar maçãs?

Um Convite à Curiosidade

Essas reflexões mostram que 1 + 1 = 2 não é apenas uma equação — é um portal para questionar o que sabemos, o que criamos e o que existe além de nós. Para mim, apaixonado por desenterrar o "porquê" das coisas, essa mistura de lógica e filosofia é muito legal!

Provar que 1 + 1 = 2 é como escalar uma montanha: começamos com a intuição simples de contar maçãs, subimos pela lógica rigorosa dos axiomas de Peano, exploramos a fundação profunda da teoria dos conjuntos, e chegamos a vistas filosóficas que nos fazem repensar a realidade. Em bases binária ou hexadecimal, a verdade permanece, mas a escrita muda, mostrando a universalidade da matemática. Esse post é apenas para revelar a profundidade de uma pergunta aparentemente trivial.

Por enquanto é isso, pessoal!

Caso queira ver o trabalho original de Peano (Arithmetices principia, nova methodo exposita), basta clicar aqui!

Fontes:

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Trigonometria. Lembram?

Pessoal,


Acabei de ver esse vídeo no Twitter e achei bem interessante.


Então resolvi relembrar umas coisas do segundo grau sobre trigonometria.

Achei esse video bem legal porque mostra a relação entre seno, cosseno, eixo das ordenadas (y ou eixo dos senos), das abcissas (x ou eixo dos cossenos), ou seja, a relação dos ângulos com o sistema cartesiano. Não me lembrava da maioria dessas coisas (e algumas nem me lembro de ter aprendido...).

Relembrando!

Todo mundo lembra dessas figuras aqui de baixo, certo?



A figura da esquerda é um triângulo retângulo, ou seja, um dos lados forma um ângulo reto (90 graus). A da direita é um triângulo escaleno qualquer, ou seja, os três lados (e por consequência os três ângulos) possuem medidas diferentes. Ainda temos o triângulo equilátero, que tem os três lados iguais e os três ângulos iguais - 60 graus -, e o triângulo isósceles, que tem dois lados iguais e dois ângulos iguais, por consequência.


Como a soma dos ângulos internos de um triângulo SEMPRE será 180 graus, podemos classificar os triângulos em 3 tipos:


O triângulo retângulo tem um ângulo interno de 90 graus, o acutângulo tem todos os ângulos internos menores que 90 graus e o obtuso tem um ângulo maior que 90 graus (obviamente apenas um ângulo, pois se houvesse mais de um ângulo com mais de 90 graus, a soma dos ângulos internos do triângulo seria maior que 180 graus).

Primeiramente, como sabemos que a soma dos ângulos internos de um triângulo é sempre 180 graus? Simples. Pegue um triangulo qualquer e trace uma reta paralela a um dos lados.


Na figura acima, repare que na reta faz uma interseção com o ponto A e é paralela ao segmento BC (sim, vamos definir que essa reta É paralela ao segmento BC). Ao colocar os ângulos no interior do triângulo e os ângulos formados com a reta, temos isso:


Ora, repare agora que os ângulos θ e β são ângulos alternos internos no segmento AB. Assim, são congruentes (ângulos congruentes são ângulos que possuem a mesma medida, ou seja, são iguais). O mesmo acontece com os ângulos λ e γ formados se segmento AC. Assim, os ângulos θ e β são iguais entre si e, do mesmo modo, os λ e γ também o são. Desse modo a figura pode ser desenhada assim: 

 
Desse modo, a soma dos ângulos θ + α + λ é igual a soma de β + α + γ. E essa soma é 180 graus (ângulo raso)!

Voltando a esse triângulo:


Todo mundo se lembra dessa figura de um triângulo retângulo, né? Seno, cosseno e tangente são assim definidos no triângulo retângulo:

    sen αcateto oposto
                  hipotenusa

    cos αcateto adjacente
                    hipotenusa

    tan α =     cateto oposto  
                  cateto ajdacente

Essas relações vêm das Leis do Seno e Cosseno e valem apenas para o triângulo retângulo.

A Lei do Seno determina que num triângulo qualquer, a relação do seno de um ângulo é sempre proporcional à medida do lado oposto a esse ângulo.


Assim, na figura acima, o lado oposto ao ângulo "A" é o segmento de reta "a", o lado oposto ao ângulo "B" é o segmento de reta "b" e lado oposto ao ângulo "C" é o segmento de reta "c". A Lei do Seno demonstra que em um mesmo triângulo, a razão entre o valor de um lado e o seno de seu ângulo oposto será sempre constante. E essa constante é igual a duas vezes o raio de uma circunferência onde este triângulo está inscrito. Isso é representado abaixo:

                      a    =    b    =    c    = 2R
                   senA    senB    senC

Isso é demonstrado facilmente no vídeo abaixo, do canal https://www.youtube.com/@MatematicaComaJu


Já a Lei dos Cossenos é um pouco mais complicada. Essa lei diz que em um triângulo qualquer o quadrado da medida de um dos lados corresponde a soma dos quadrados das medidas dos outros dois lados menos o dobro do produto da medida desses dois lados pelo cosseno do ângulo entre esses dois lados.

Ufa...

Fica mais claro quando vemos a figura e a relação abaixo:


Para resolver isso, usamos uma tabela trigonométrica. Veja essa tabela, dos ângulos 1 a 90, aqui. Esse site aqui calcula diversas relações trigonométricas no triângulo. Confira porque é bem legal!

Interessante é a relação entre o Teorema de Pitágoras e a Lei dos Cossenos! Como o cosseno de um ângulo de 90 graus é zero (veja a tabela trigonométrica dos ângulos notáveis abaixo), essa segunda parte da equação do cosseno é zero. Veja abaixo:

a² = b² + c² - 2.b.c.cos90

Como cos 90º = 0, a expressão acima fica:

a² = b² + c² - 2.b.c.0

a² = b² + c²

Ou seja, o Teorema de Pitágoras é um caso especial da Lei dos Cossenos!

Já Lei das Tangentes define a relação entre as tangentes de dois ângulos de um triângulo qualquer e os comprimentos dos lados opostos a esses ângulos.

Por essa lei, dado o triângulo abaixo com lados a, b e c e ângulos α, β e γ:


Como dito mais cedo, em um triângulo retângulo a tangente de um ângulo qualquer é a relação entre a medida do cateto oposto e a medida do cateto adjacente. Se a figura acima fosse um triângulo retângulo cujo ângulo reto fosse o ângulo α, a tangente do ângulo β seria:

tan β = cateto oposto     =  b 
            cateto adjacente     c

Já para um triângulo qualquer que não seja retângulo, podemos calcular a tangente através da razão entre o seno e o cosseno do ângulo desejado:

tan α = sen α
             cos α

A Lei das Tangentes pode ser assim representada:

 a−b  =  tg [1/2(α−β)]
 a+b      tg [1/2(α+β)]


Na minha época de colégio, a gente decorava uma mini-tabela trigonométrica com os "ângulos notáveis", ou seja, 0, 30, 45, 60 e 90 graus. Era isso aqui abaixo:



Matemáticos acreditam que a trigonometria surgiu como necessidade para calcular o relógio de sol e resolver problemas astronômicos e de navegação.

Eratótenes descobriu, há mais de 2200 anos, que a terra era redonda e calculou seu diâmetro (com pequeno erro) usando trigonometria básica!

Como a trigonometria estuda as relações entre os lados e ângulos dos triângulos, é utilizada na matemática, física, astronomia, engenharia, geografia, química, medicina, etc.

Voltando ao início desse post, no vídeo o seno e cosseno são representados num círculo, o "círculo trigonométrico".


Esse círculo deixa claro algumas coisas e deixa "visível" os valores presentes nas tabelas trigonométricas, principalmente a com os ângulos notáveis. Repare que a medida que um ângulo A aumenta de 0 até 90 graus, a representação de uma reta que sai da posição (0,0) nesse ângulo (ou seja 0, 1, 2, ..., 89, 90 graus), haverá uma redução de 1 até zero no valor do cosseno, haverá um aumento de zero até 1 no seno e a tangente aumentará de 0, será 1 em 45 graus (fora do círculo) e continuará aumentando até o infinito, pois o eixo das tangentes é paralelo ao dos senos e duas retas paralelas só se encontram no infinito!

Quando rodamos todo o círculo trigonométrico (sentido anti-horário, de 0 graus até 360 graus), vemos que tanto o seno quanto o cosseno fazem movimentos periódicos, conforme as figuras abaixo. Só um detalhe: chamamos o movimento periódico do seno de senoide ou onda sinusoidal e o movimento periódico do cosseno de cossenoide ou onda cossenoidal.





O gráfico da tangente também é um gráfico periódico. Ao contrário do seno e cosseno cujos valores variam de -1 a 1, os valores da tangente variam do infinito negativo ao infinito positivo.



Por fim, concluindo o vídeo, é mostrada a primeira relação fundamental da Trigonometria

sen² x + cos² x = 1

Olhando as figuras das ondas sinusoidal e cossenoidal, fica claro essa relação:



Para a demonstração dessa relação, podemos usar o círculo trigonométrico:


Assim, nesse triângulo, temos que:

sen α = cateto oposto = AB = AB
               hipotenusa        1      

cos α = cateto adjacente = CB = CB
              hipotenusa             1

Aplicado o teorema de Pitágoras:

AB² + CB² = AC²

sen² x + cos² x = 1²

sen² x + cos² x = 1

Realmente, a matemática é uma coisa muito legal!

Até a próxima, pessoal!