Pessoal,
Realmente estou sem tempo atualmente. Muito trabalho (graças a D'us), mas com pouco tempo para lazer. Mas a gente vai se divertindo mesmo assim!
Bom, eu nunca tive computadores Apple quando eu era mais novo. Como já contei aqui, meu primeiro computador foi um Gradiente MSX DDPlus e, a seguir, alguns PCs. Meu primeiro Mac, um MacBook White Unibody, foi comprado só em 2009.
Eu sempre achei o Macintosh clássico muito bonito e elegante, mas eles sempre foram muito caros. O modelo Macintosh Classic, de 1990, custava a partir de US$1,000 lá nos EUA (algo como US$ 2,500 em valores atuais). O modelo Macintosh 128K, de 1984, custava $2,495 ($7,700 em valores atuais).
Além de caros, esses computadores eram "impossíveis" de serem comprados no Brasil. Não bastasse o preço, absurdamente caro para a realidade brasileira na década de 1980 ("a década perdida"), ainda tínhamos a fantástica Reserva de Mercado, uma genial idéia para fortalecer a indústria nacional mas que, na prática, proibia a importação de diversos produtos, tornando o Brasil um dos países mais fechados do mundo em termos de comércio internacional e tornando o mercado interno do país um feudo exclusivo de alguns poucos fabricantes que só traziam produtos ultrapassados e caríssimos. Assim, oficialmente a Apple só chegou ao Brasil em 1995, após o fim da Reserva de Mercado e com a criação do Plano Real (veja essa reportagem aqui).
Uma curiosidade: em 1987 uma empresa brasileira, a Unitron, lançou um clone do Macintosh 512K. Esse computador gerou uma batalha comercial entre os EUA e o Brasil. Veja essa história aqui e aqui.
Enfim, vamos voltar ao tópico deste post.
A Apple lançou, desde 1984, uma enormidade de modelos. É até difícil entender o quê vem antes de quê. Achei essa foto no Wikipedia para ilustrar melhor:
É uma enormidade de modelos. Eu até que não me interesso tanto pelos modelos em si, mas preciso saber quais modelos rodam as versões do SO que pretendo instalar.
Os modelos clássicos são divididos em "Old World ROM" e "New World ROM". Os primeiros, de 1984 até 1998, tanto com processadores Motorola 68000 quanto IBM PowerPC, utilizavam o Macintosh Toolbox, uma série de recursos, drivers, rotinas e APIs armazenados na ROM. Isso era devido ao fato da ROM ser mais barata e mais rápida que a RAM, assim uma boa parte do SO era carregado da ROM e não do disco de inicialização. Leia aqui para entender um pouco mais sobre isso. Já os do segundo tipo não tinham esse ToolboxROM na placa lógica, mas usaram uma ROM de inicialização armazenada na pasta "System".
Em 2006 a Apple adotou chips da Intel para toda a sua linha e o boot passou a ser por UEFI e em 2020 a Apple passou a adotar chips de arquitetura ARM desenhados por ela mesma (Apple Silicon).
Assim, para entender qual emulador usar, precisamos definir qual o modelo de Macintosh queremos usar, saber qual o seu processador e sua ROM, escolher a memória e qual a versão do SO desejamos... Muito simples, não?
A Apple usou chips da família Motorola 68000 inicialmente. Os 68000 eram 16-bits com registradores 32-bits, com clock de 5 a 16 MHz. Os 68020 eram 32-bits, usados inicialmente no Macintosh II, com clock de 16 MHz. Os 68030 permitiam memória virtual e tinham um cache para dados, eram 32-bits e tinham clock de 16 a 33MHz. Já os 68040 tinham melhor performance que os 68030 e tinham mais cache de data, além de clock de 25 a 40MHz.
Em 1994 a Apple adotou processadores IBM PowerPC. Foram os modelos PPC 601, 603, 604, G3, G4 e G5. O chip PPC-G4 foi o primeiro a ter clock de 1GHz e o G5 foi o primeiro processador 64-bits para Mac.
Em 2006 a Apple passou a adotar processadores Intel x86, indo dos Core Solo e Duo aos Ice Lake, da 10a geração.
E, por fim, em 2020, a Apple passou a adotar os chips ARM desenvolvidos por ela e produzidos pela TSMC.
Aqui estão todos os chips dos modelos da Apple.
Aqui está a lista de todos os produtos da Apple.
A figura (também obtida da Wikipedia) abaixo mostra a relação da versão do SO, do modelo de Mac e o processador:
Para simplificar, podemos resumir assim as opções para Macintosh clássicos:
- Macintosh 128 ou 512 - System 1 e 2
- Macintosh Plus - System 3
- Macintosh SE e II - System 4 e 5
- Macintosh IIX e SE - System 6
- Macintosh LC e Quadra - System 7
Aqui tem um bom resumo de todas essas versões.
Por fim, os emuladores. Atualmente temos 4 opções viáveis:
- Mini vMac - para emular computadores de 1984 a 1996 (família Motorola 68000), do System 1 ao 7.6;
- Basilisk II - para emular os Mac Classic (do System 1 ao 7.6) ou Mac II (System 7.x ao 8.1);
- SheepShaver - para emular Macs com processadores PowerPC (de 7.5.2 a 9.0.4);
- Infinit Mac - para emular todos os Macs clássicos e NeXT até o MacOS 9.0. É online!
Dito tudo isso, vamos colocar a mão na massa e instalar alguns máquinas virtuais :)
- Mini vMac
Após fazer o download do aplicativo (aqui), descompacte ele. Para Mac, ele aparecerá com extensão .app e para Windows aparecerá como .exe.
Após executar, ele fará o bip clássico dos Macs antigos e aparecerá uma mensagem informado que não foi possível encontrar a ROM do computador:
Agora vamos ter que procurar a ROM do sistema desejado. Como dito mais cedo, o Mini vMac emula computadores que rodam do System 1 ao System 7.6, fabricados até 1996 e que usam processadores da família Motorola 68000. Macs que tinham processadores Power PC (G3 em diante, iMac, "New World ROM, etc), não vão rodar neste emulador.
A ROM você consegue baixar no site Macintosh Repository (aqui). Aqui você pode escolher a ROM desejada.
Escolhida a ROM, esta deve estar na mesma pasta que o aplicativo (.app ou .exe) e deve ter o nome "vMac.ROM" (exatamente assim!). Uma vez baixada a ROM, modificado o nome e colocada na pasta, ao executar o Mini vMac, aparecerá a imagem abaixo, informando que o sistema operacional não foi encontrado.
Escolhida a ROM (a máquina), agora vamos escolher a versão do sistema operacional.
Um pequeno adendo: você perceberá que esse disquete com interrogação pisca bem rápido. Isso acontece porque, por padrão, o vMac roda 8 vezes mais rápido que o Mac real. Apertando e mantendo pressionado <Control + S>, você poderá alterar a velocidade do emulador.
Para baixar a versão do sistema operacional desejada, recomendo o WinWorld (aqui), nosso velho conhecido das instalações de versões antigas de DOS e Windows.
Como escolher qual versão? Depende de qual máquina (ROM) você escolheu. Por exemplo o Macintosh 128K roda até o System 3, o 512K roda até o System 4.1, o Plus roda do 3.0 até o 7.5.5, o Classic II roda do 6.0.8 até o 7.6.1 e o Color Classic II roda do 7.1 ao 7.6.1. A lista de compatibilidades pode ser encontrada aqui. Algumas ROMs estão corrompidas, sendo necessário garimpar pela internet. Sites como o Archive.org são boas fontes (veja aqui e aqui, por exemplo). Este site aqui também tem algumas ROMs.
Baixado a versão correta do System, é só deixar na pasta onde já está o aplicativo do Mini vMac e a ROM e arrastar o arquivo (extensão .img) para o Mini vMac em execução.
Uma sugestão: como esse aplicativo é pequeno (apenas 129KB) e as ROMs e IMGs são pequenos também, crie pastas para cada máquina que quiser manter. Assim, por exemplo:
Bom, ao executar o Mini vMac com a ROM adequada e arrastando o disco do SO para o aplicativo, teremos isso aqui:
Veja que, ao iniciar o sistema, temos o disco de instalação mas não temos HD para instalar. Assim, vamos instalar um HD nesse Mac e instalar o SO nesse HD.
A imagem do HD pode ser obtida aqui. Também podemos usar o aplicativo Disk Jockey (aqui) para criar as imagens. Caso escolha o Disk Jockey, lembre-se de escolher para qual tipo de máquina vai usar.
Escolha o tamanho, descompacte a imagem (.dsk), arraste para a máquina aberta e mande instalar no HD. Bem simples esse processo. Vai pedir para adicionar os discos (é só arrastar para o app) e reiniciar a máquina. Agora arraste o a imagem que você criou e instalou o SO e pronto:
("Olá, eu sou o System 6.1, rodando em um HD no Macintosh Plus!")
Para instalar jogos e aplicativos nesse Macintosh, basta arrastar o arquivo .dsk ou .img do programa para a máquina. Há vários sites com aplicativos e jogos, como o o Macintosh Repository e o Archive.org.
Caso o arquivo baixado esteja com final .sit, é porque ele está compactado com o StuffIt, um "ZIP" antigo dos Macs. Para usar programas assim, baixe o arquivo para resolver isso aqui. Para isso, baixe o arquivo dessa página (importfl-1.2.2.zip), descompacte e arraste o .dsk para o vMac. Lá dentro, abra o .dsk e arraste o arquivo "importFl" para o HD, para manter gravado no HD. Depois, ao abrir o arquivo do HD, aparecerá a mensagem "ImportFl: Ready to import...". É só arrastar o .sit.
Primeiro temos que baixar o ResEdit (aqui). Esse programa basicamente dirá ao Mac antigo que um arquivo .sit deve ser lido como um arquivo do StuffIt. É como dizer que um arquivo .doc é para ser lido pelo Word ou um .xls deve ser lido pelo Excel. Coisas de computador antigo.
Depois de baixar, você verá que o arquivo tem esse nome aqui: "resedit_2.1.3.img_.sea__0.bin". Isso nada mais é que um arquivo zipado. Apenas mude o .bin para .zip e descompacte, arraste o arquivo .img que foi descompactado para o vMac e, por fim, arraste-o para o HD. Após abrir o ResEdit e selecionar o arquivo .sit desejado, você receberá uma mensagem assim:
Para resolver isso, clique em "ok" para criarmos a ligação entre o .sit e o programa StuffIt. Vá em File -> Get Info for <seu arquivo.sit>.
Aqui temos que mudar as informações em "Type" e "Creator":
Essas informações podem ser obtidas no site MacDisk. Este site mostra a assinatura do criador do programa, qual o tipo do arquivo, qual a extensão e qual o criador. Veja a figura abaixo:
Assim, os arquivos .sit são da StuffIt e, no ResEdit, vamos colocar como tipo "SIT!" e como criador "SIT!". Deve ficar assim:
Agora pode fechar o arquivo (clicando no quadrado do canto superior esquerdo) e salvá-lo e sair do ResEdit.
Isso talvez seja necessário para cada arquivo que você fizer... Coisas de retrocomputação...
Agora precisamos do StuffIt e você pode baixá-lo aqui. O processo é o mesmo de outros programas: baixar, descompactar, arrastar o .dsk para o Mac e copiar o executável para o HD. Agora execute o StuffIt, escolha o .sit que deseja abrir e pronto!
Basicamente isso é o necessário para o Mini vMac! Achei um vídeo no YouTube com um bom tutorial também (veja aqui).
- Basilisk II
Basilisk II é um emulador multiplataforma (Unix, MacOS, Windows, BeOS e até AmigaOS) que emula desde o Mac Classic (rodando do System 1.x até o 7.6) ao Mac II (rodando System 7.x, 8.0 e 8.1), porém apenas para processadores Motorola 68xxx. Entretanto o projeto foi interrompido em 2008 mas é mantido por voluntários.
O download pode ser obtido aqui, no GitHub do projeto, ou aqui, no Emaculation. No caso do Basilisk II, é necessário baixar o aplicativo e um aplicativo adicional para a interface mais amigável (BasiliskGUI, aqui). Também é necessário baixar ROM para a máquina (baixei aqui), mas já deixei outras opções acima, no tutorial do Mini vMac. Além disso, também é necessário fazer o download do sistema operacional (aqui).
Após realizar os downloads, crie uma pasta e deixe os arquivos para cada máquina que deseja criar lá, assim como mostrei no Mini vMac. Fica bem mais fácil e organizado, ainda que ocupe um pouco mais de espaço. A ROM, neste emulador, pode ter qualquer nome (prefiro deixar o nome da máquina que vou emular), uma vez que o programa vai ser informado do nome e localização da ROM.
Também precisaremos de uma imagem de disco como HD. Podemos usar as imagens limpas que eu tinha mostrado antes ou o aplicativo Disk Jockey (aqui) para criar as imagens. Caso escolha o Disk Jockey, lembre-se de escolher para qual tipo de máquina vai usar.
Agora abra o Basilisk II GUI.
Primeiro vamos adicionar os discos. A ordem deve ser o disco de instalação e depois o HD. Depois, em "Unix root", indique uma pasta para poder transferir arquivos entre o computador atual e a VM. Agora, em
"Graphics/Sound", escolha a atualização da tela (preferi deixar em 30MHz) e o tamanho da janela que você quer. Em "System", escolha o tipo de máquina, o tamanho da RAM e o processador e indique onde está a ROM escolhida. O botão "Start" só inicia a VM se ela estiver na pasta "Aplicativos", caso contrário nada ocorre.
Na pasta onde colocou tudo, simplesmente inicie clicando em "Basilisk II". Abra a imagem com a instalação e escolha instalar no HD. Ao final da instalação, saia da VM, execute novamente o GUI e retire o volume de instalação, deixando só o volume do HD.
Na primeira vez que executar após a instalação, talvez apareça esse erro aqui:
Para solucionar, reinicie a VM com o SHIFT apertado (talvez precise fazer isso algumas vezes), vá na pasta "System Folder -> Extensions" e apague a extensão "A/ROSE". Outra opção pode ser escolher uma VM com processador menor (inicialmente tinha escolhido o 68040, que deu este problema e, depois, com o 68020, não tive problemas).
Pessoalmente achei o Basilisk II mais fácil de configurar que o Mini vMac.
Aqui, no Emaculation, tem um bom tutorial para a instalação do Basilisk em MacOS. E aqui, no YouTube, tem um bom também (baseado no Emaculation).
Um detalhe é que algumas imagens do System 8.1 podem dar problema para instalação. Aparece uma mensagem assim: "Error: The system software on the startup disk functions on the original media, not if copied to another drive." Esse erro é basicamente porque o sistema interpreta que a sua cópia é ilegal e para resolver basta ir clicar com o botão direito sobre a imagem, ir em "Obter informações" (ou Propriedades do Arquivo, caso esteja no Windows) e mudar o arquivo para "Read Only". Pronto! :)
- SheepShaver
Esse é o terceiro emulador para rodar Apple antigo. Ao contrário dos emuladores anteriores, este emula o processador IBM PowerPC que equipava os Macs até a Apple migrar para os processadores Intel.
PowerPC é um acrônimo de "Performance Optimization With Enhanced RISC - Performance Computing" e refere-se a uma arquitetura de processador RISC criada por uma associação entre Apple, IBM e Motorola. Produziu processadores de 32 e 64bits e equipou, além desses Macs clássicos, vários consoles como XBox 360, PlayStation 3, Game Cube e Wii.
Como curiosidade, um modelo em especial dos PowerPC é usado até hoje: é o modelo RAD750, um processador já citado aqui no blog (veja aqui), desenhado em 2001 para tolerar altos graus de radiação (200.000 a 1.000.000 Rads) e temperatura (-55 a 125 graus). Esse modelo de 32bits, produzido em um "arcaico" processo de 150nm e opera em 110 a 200MHz, equipa vários satélites e, inclusive, o Perseverance (enviado para Marte). Custa singelos US$ 340.000 e são idênticos aos processadores utilizados pelos PowerBook G3, iMacs coloridos e os primeiros iBooks!
Voltando ao SheepShaver: assim como nos emuladores anteriores, crie uma pasta para colocar o aplicativo baixado aqui, a ROM baixada aqui e o System 9.0.4 baixado aqui (o SheepShaver emula do 7.5.2 ao 9.0.4, portanto o 9.1 e 9.2 não funcionarão aqui).
A ROM baixada deve ter exatamente esse nome: "Mac OS ROM", sem extensão.
Assim que você executar o SheepShaver, irá aparecer o disco com interrogação, informando que a ROM não foi encontrada. Vamos ter que fazer algumas configurações antes de funcionar tudo!
("Olá! Sou o SheepShaver e não encontrei o arquivo de ROM!!")
A primeira coisa que faremos é ir no menu do canto superior esquerdo do Mac e clicar no SheepShaver -> Settings. Nessa tela faremos todas as configurações necessárias.
Vá em "Create" para criar um disco virtual e escolha o nome que quiser, porém com a extensão ".hfv". Criei um HD de 500MB. Depois vá em "Add" para adicionar a ISO de instalação (lembre-se de marcar a ISO para Read Only, como explicado mais para cima no post. Depois mude a RAM para pelo menos 512MB.
Em "Audio/Volume" ajuste a taxa de atualização da tela (coloquei em Dynamic) e coloquei o tamanho da tela em 1024x768.
Em "Miscellaneous" certifique-se que "Ignore illegal instructions" e "Ignore illegal memory accesses" estejam marcados. Agora reinicie o emulador e instale normalmente!
Esse é, de longe, o mais "amigável" para instalar. É bem melhor que o Basilisk II e muito, muito melhor que o Mini vMac.
Bom, tá instalado! Não consegui ainda fazer a internet funcionar, mas o som está funcionando sem problemas.
Tirando a curiosidade de ver ele funcionando, tem pouca utilidade prática! Se você quiser, pode fazer um Mac Clássico com um Raspberry Pi, como aqui!
Outra coisa quem percebi é que a instalação dessas versões antigas do MacOS eram muito mais fáceis que as do Windows! Impressionante!!
Mas é isso por hoje! Até o próximo post, pessoal!
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