quinta-feira, 3 de junho de 2021

Mensagem de Arecibo

Pessoal,

Na década de 1980, o astrônomo Carl Sagan (1934-1996), um dos criadores do projeto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) e um dos responsáveis pelas missões Voyager, criou uma série para a TV baseada no seu livro COSMOS. A série (também COSMOS) abordava assuntos de ciência como espaço-tempo, viagens espaciais, etc, de uma forma didática para crianças e adolescentes (e porque não adultos?).

("Muito prazer, Carl Sagan!")

Lembro de ficar fascinado com a série! Em 2002, sua viúva Ann Druyan relançou a série remasterizada e pude assistir novamente todos os episódios.

(Tela de abertura do programa COSMOS)

Sagan foi um dos idealizadores da "Mensagem de Arecibo", dentro do projeto SETI, com o objetivo de enviar uma mensagem para fora da nossa galáxia na esperança que alguma inteligência extraterrestre possa receber no futuro. Quem assistiu o filme "O Contato" (escrito por Sagan também) percebeu exatamente o que era esperado dessa mensagem.

Outro idealizador dessa mensagem foi Frank Drake, ainda vivo, idealizador da equação de Drake, que calcularia quantas civilizações inteligentes existem na galáxia.

O Observatório de Arecibo foi construído em 1963 em Porto Rico e funcionou até 01/12/2020, quando os cabos de aço se romperam e uma das torres desabou sobre o prato do observatório causando sua destruição.


Bom, esse observatório era um dos principais do projeto SETI. E aqui vamos ao assunto deste post.

Em 1974 foi criada uma mensagem que foi enviada em direção ao agrupamento globular estelar Messier 13 (M13), um agrupamento de cerca de 300 mil estrelas com aproximadamente 100 anos-luz de diâmetro na Constelação Hércules, a cerca de 25 mil anos-luz da Terra. M13 foi descoberta pelo astrônomo Edmond  Halley (o mesmo do cometa) em 1714.

Assim, se tudo der certo, daqui a cerca de 25 mil anos esse sinal chegará lá em M13.

O sinal foi pensado para ser analisado por uma civilização que conheça rádio e matemática.

Essa é a mensagem:

("Muito prazer, eu sou da Terra!")

A mensagem continha 1679 dígitos. Esse número não era aleatório, mas sim um número semiprimo, ou seja, um produto de dois números primos (23 e 73). 

A ideia de usar esse número era sugerir que há uma matriz bidimensional de 73 linhas por 23 colunas.

Além disso, é fundamental entender o código binário: um ou zero, aceso ou apagado, sim ou não. Essa talvez seja a forma mais simples de notificação e é a base do funcionamento dos computadores atuais.

A mensagem é divida em sete partes, cada uma delas mostrando um aspecto de nossa civilização. A mensagem dever ser lida coluna a coluna antes de passar para a próxima seção.

A primeira parte é a mais simples e representa os números de 1 a 10. São três dígitos para representar cada número separados por uma coluna vazia (de um até sete) ou duas colunas (oito a dez). O quarto dígito da coluna está marcado para indicar que o número "acabou":




A seguir vem uma seção que contem os números binários que representam os números atômicos dos elementos principais da vida na Terra - Hidrogênio (1), Carbono (6), Nitrogênio (7), Oxigênio (8) e Fósforo (15):






A terceira seção apresenta as bases do DNA - Adenina / Timina e Citosina / Guanina, com a desoxirribose e o fosfato:




A quarta seção apresenta a dupla hélice do DNA. Uma barra vertical indica o número de nucleotídeos do DNA:




A quinta seção é um pouco mais complicada. Apresenta no meio o homem. À direita está o número binário que corresponde à população humana na época, 1974, cerca de 4,29 bilhões de pessoas. À esquerda é uma forma de mostrar a altura do ser humano. A mensagem foi enviada a 2.380MHz e para obter o comprimento de onda em metros, divide-se 300/2380, o que dá 0,12605 metros, ou 12,6 centímetros. Junto ao "humano", está o valor 1110 (14 em decimal). Multiplicando 12,6 cm por 14, chegamos a 176 cm ou 1,76 metros, altura média do ser humano.





A sexta parte mostra nosso sistema solar, começando do Sol e indo até Plutão (que ainda era planeta nessa época). A Terra está um pouco para cima, para reforçar que é este o nosso planeta.



A sétima e última parte fala do radiotelescópio de Arecibo, mostrando a sua forma curvada. A última linha mostra o número binário 100101111110, que corresponde a 2430. Utilizando o valor de 12,6 cm do cálculo da altura do homem e multiplicando por 2430, achamos 30.618 cm ou 306,18 metros, o diâmetro da antena do radiotelescópio de Arecibo. Esse "M" mostra o caminho da radiação que chega paralela do espaço, reflete na curvatura do prato do telescópio e converge para o ponto focal.



Bom, para ser sincero, essa mensagem parte de muitas premissas que podem não se acontecer. Na mensagem enviada não há cores, apenas dados binários. Considerando que eles entendam toda a lógica da figura bidimensional, há uma sobreposição de algumas seções que deixam a coisa um pouco confusa (veja nas áreas marcadas com o oval):



Além disso, a mensagem foi enviada em direção onde hoje está a M13. Mas daqui a 25 mil anos, quando o sinal chegar lá, provavelmente M13 já não estará lá a uns bons milhares de anos.

Na época houve muita crítica à mensagem, principalmente pelo fato de mostrarmos ao Universo que "estamos aqui", que isso seria um risco para a segurança dos humanos. Essa mesma critica foi feita quando colocaram os discos nas Pionner e nas Voyager (juro que vou falar desses discos ainda).

Por hoje é isso.

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